terça-feira, 3 de julho de 2012

ECONOMIA VERDE, O TAC DO CAPITALISMO



Termo de Ajuste de Conduta” é o dispositivo legal que se utiliza no Brasil para compensar impactos ambientais causados por ações já consumadas, mas que em patropi tomaram rumo bastante diferente – são largamente usadas como prévia garantia para perpetração de toda sorte de danos ambientais, júris-fórmula que garante salvo-conduto para a efetiva consumação dos empreendimentos em questão. Foi assim com Belo Monte, foi assim com as demais mega-hidrelétricas País afora, foi assim com a... Transposto esse sinuoso estratagema para o sistema capitalista global, seria apropriado falar-se de um TAC do capitalismo a ser urdido na Rio+20 ?

O “Termo” do TAC
Será o protocolo/tratado propriamente dito, gerado na “Rio menos 40”, fruto de sinuosas e insondáveis negociações que já duram meses, cujo resultado mais palpável foi a emissão de muitas toneladas de gases de efeito estufa por parte dos aviões, carros e trens que circularam mundo afora transportando diplomatas de carreira e plus-consortes, muitas toneladas de caviar e milhares de champanhas, para ficarmos somente em alguns itens presentes nesse “desprendido” esforço por parte da elite mundial, que o faz “em nome de toda a humanidade”, embebida dos mais puros e nobres ideais. Aos mais “sensíveis”, os discursos suscitam comoções e prantos.



Com “modestos” salários na casa dos 7 dígitos, seja em dólar, euros ou mesmo reais, e desfrutando de TODAS as benesses inimagináveis, dá-se como certo que todos os membros desse seleto e nobre clube de amigos, indistintamente de sua nacionalidade, credo, raça e ideologia política, abandonarão “in limine” seu esporte preferido de voraz consumismo, em sobre-humano e heróico esforço individual para “ajudar” na sobrevida (da vida) planetária. Prêmios serão distribuídos para os que acumularam mais horas de vôo no afã de produzir o documento final da conferência. Cientistas que abrilhantaram as rodadas com inovadores paradigmas e holo-teorias também terão lugar no pódio. Alguma criança será indicada como símbolo da luta pela perpetuação da espécie, para frenesi da mídia e de grupos de auto-ajuda. Alguns plantarão árvores e o que ficará como lembrança, assim como foi na Eco-92, será a festa. Sim, a enorme festa. O encontro exala a mesma hipocrisia que se viu há vinte anos atrás, evento no qual todos se comprometeram com metas que jamais saíram do papel. De lá para cá, a situação ecológica no mundo só piorou. E muito !!!

O “Ajuste” do TAC
A elite dirigente mundial que governa o capitalismo precisa urgentemente, a luz do insofismável cenário de degradação ecológica em escala planetária, produzir um acordo na forma de mais um tratado internacional, eivado de certa credibilidade político-institucional, com vistas a implementar reformas urgentes em seus mecanismos de reprodução enquanto sistema sócio-político-econômico e cultural. 
“ajuste” no sistema vem sob rótulo de ECONOMIA VERDE, uma espécie de upgrade do desgastado “desenvolvimento sustentável”, já que este se mostrou pouco eficiente para dar conta da economia, ambiente propositalmente dissociado em seu modus operandi da ecologia, que, a rigor, deveria governar a economia. Mas, como isso se afigura absolutamente impossível no âmbito do capitalismo, ainda que munido de fórmulas neoqueinesianas, para desespero da banda neoliberal, fala-se na reforma do cálculo do PIB, embutindo preços atribuídos aos serviços ambientais, uma espécie de “upselling” da natureza. Mas ao capitalismo, governado pelo lucro que alimenta essa mesma elite mundial que dele vive e com ele se perpetua, em permanente crise sistêmica global, aceitaria limitações auto-impostas pela crise ecológica? Bastaria que algumas medidas fossem adotadas pelos mercados mundiais para “ajustar o passo” do sistema em relação à reversão da perda da biodiversidade? Do inquietante aumento de emissões dos gases estufa? Do aquecimento global? Do acelerado colapso dos oceanos? O que essa elite dirigente não pode fazer é trazer a ética ao cenário da solução. Síndica de um condomínio no qual uns pagam os estragos causados pelos outros, outros não pagam nada e só usufruem dos recursos rapinados aos outros, além da banda omissa, faz o discurso parecer um rol de mentiras permeado de falácias e contos de carochinhas.
A “Conduta” do TAC

Sob o argumento de erradicar a pobreza no mundo e dar conta da crise ecológica, a elite governante engendra um discurso que apresenta a ECONOMIA VERDE como fórmula redentora dos “defeitos estruturais” do capitalismo, tornando a humanidade refém e cúmplice dos processos e decisões por ela tomada em evidente movimento de auto-preservação. Na cultura do “progresso material” acopla-se uma dose de preocupação eco-estética e pretensamente humanista, ao defender o crescimento econômico a todo custo, com vistas a gerar e repor empregos evaporados pelas próprias crises que o sistema constantemente produz. A fórmula é a expressão repaginada da mais refinada “maquiagem verde” que, a bem da verdade, traduz a sofisticada capacidade de adaptação do discurso das elites em sua governança global. A CNI sai em defesa da “economia verde” como fórmula para alcançar o “desenvolvimento sustentável”, como se a esse grupo interessasse colocar obstáculos à lucratividade das empresas. Em síntese, fala-se do compromisso com o propósito de não executá-lo. Já vimos esse filme !!!

Coerente com esse enfadonho discurso, Dilma abaixa o IPI dos automóveis a pedido dos empresários, ignorando solenemente as implicações que a medida acarretará na entupida vida nas metrópoles brasileiras, carentes de transporte de massa com qualidade e eficiência ecológica. Vende para o mundo a construção de Belo Monte como exemplo de “economia verde” ao passo que mantém o Programa Nuclear Brasileiro intacto, na contramão do clamor mundial. Só faltaria mesmo vender a “erradicação do Código Florestal” que patrocinou como uma medida sintonizada com a economia verde, para felicidade geral do BIG-agro-negócio et caterva. Está aí, portanto, o “eco-capitalismo” apresentando-se como solução. Mas cá para nós, o melhor mesmo seria colocar o “eco” como prefixo do socialismo democrático, solidário, altermundista. Essa é uma utopia que não discutirei numa “abobrinha ekoxata”, mas sim, será o resultado da luta transformadora de milhões de homens e mulheres mundo afora.

sábado, 14 de abril de 2012

PROGRAMA DE TÁXI MARÍTIMO ULTRA-SECRETO



Ninguém sabia ao certo o que fazia toda aquela frota de lanchas no pequeno trapiche da Intech Boating portando a logo SEAP na proa, acompanhada de um estranho código que vai de “01” a “28”. Poderia ser de algum “serviço estratégico de atendimento portuário”, ou coisa parecida. Mas logo se viu que não era nada disso.

Lancha fundeada no píer do Centrosul, com TJ, Forum da Capital e Morro da Cruz ao fundo. Obs: até agora não se sabe como ela chegou até ali.





O empresário já irritado diante da demora de tirá-las de lá, pois ocupando precioso espaço em seu mini-porto, resolveu botar a boca no trombone e dizer que foi achacado por um sujeito lhe pedindo contribuição para a campanha da Ideli para o governo de SC em 2010, em compensação pecuniária por ter sido “agraciado” pela fortuna de R$ 31 milhões, coisa que não cai todo dia na continha daquela micro-empresa de iates e barquinhos. E, afinal, deu um puta trabalho ir 
à Brasília, visitar um sem número de ilibadas figuras em vários Ministérios, além de comparecer de terno e gravata no pregão da licitação pública, sabedor, é claro, que ganharia de qualquer maneira qual fosse o concorrente que aparecesse. E apareceu concorrente, mas não levou, apesar de propor preço menor para fabricar as tais “lanchas patrulha”.

Tudo isso seria um disfarce para driblar os curiosos diante do mais engenhoso projeto de transporte marítimo já bolado em baías de águas calmas, como são as baías norte e sul entre a Ilha de Santa Catarina e o continente. Em verdade, trata-se de um projeto ultra-secreto que Dario e Ideli bolaram para resolver de uma vez por todas os gargalos de mobilidade urbana na região metropolitana de Florianópolis – “serviço de táxi marítimo metropolitano” ultra-veloz e, ao mesmo tempo, vigilante sobre os recursos marítimos e pesqueiros, sobre os quais tem enorme carinho.



Dario assinando o recebimento de uma lancha para o “Programa de Táxi Marítimo Metropolitano”, acompanhado de Ideli, Gregolin e Bacha, expert em “pescados em geral”.

“O que eu faço com uma lancha dessas?”, teria dito Dario na ocasião, espantado e surpreso diante da inusitada oferta. Mas assinou assim mesmo, pois advertido de que se não o fizesse, o PAC não liberaria dindin...

A CIA, porém, já havia botado o olho com seu satélite espião permanentemente estacionado sobre a Floripa mágica, e despachado agentes para olhar in loco a frota que se juntava no píer da Intech. As suposições iam desde uma eventual operação marítima do cartel dos Manaloa até uma ultra sofisticada operação terrorista da Al-Qaeda que, ao que indicariam as análises da inteligência, jogaria as lanchas sobre a recém inaugurada plataforma da OSX no litoral carioca, fazendo jorrar bolhas de petróleo durante o restante do século XXI. Outras suposições foram aventadas pelo quartel general da CIA em Langlei, mas ainda não foram divulgadas, por ora. 

Ideli tensa ao telefone orientando Dario para não falar do “programa de táxi marítimo metropolitano”, porque o mesmo foi descoberto pela CIA, uma vez que a notícia eliminaria o “fator surpresa” para lançar o programa para a população florianopolitana na semana do aniversário da cidade.
“NÃO, NÃO FALA NADA DARIO !! Faremos uma surpresa na campanha eleitoral.


Entrevistado sobre o fato de ter alguma sutil ligação com a ultra-secreta operação montada no litoral catarinense, o lugar tenente da Ideli, Bacha, grão articulador da sua campanha eleitoral, saiu-se melhor que os demais, atribuindo o acúmulo da frota no píer da Intech como uma “concentração para pegar de vez todos os cardumes de peixes ainda restantes no litoral brasileiro”, o que seria, segundo ele, uma prova cabal da proeza e eficácia da engenharia naval nacional em prol da pesca industrial. Em contrapartida, uma vez 
acabados os malditos peixes, todos os pescadores seriam automaticamente aposentados com o “defeso amplo”, pensão vitalícia para garantir-lhes a sobrevivência e o voto no PTzão nas futuras eleições até o mundo se acabar em 2062, cinqüenta anos depois do previsto por ele e Lula.

Bacha com leve ressaca posando ao lado de exemplares de perigosos peixes, alvos da frota destinada a eliminá-los completamente do litoral brasileiro, pois colocando em risco, segundo ele, a exploração do pré-sal e perturbando os surfistas, além de “bicudos” demais para seu gosto. Nem mesmo a dócil espécie “gadus morhua”, representada na figura ao lado, seria poupada.
“A única espécie que deixaremos livre nos mares do sul é a popular ‘lula petiscosensis’, inofensiva e amigável, para todos os efeitos, mas ainda temos alguma dúvida se ela conseguirá sobreviver aos efeitos colaterais diante da ausência dos peixes que conformam sua cadeia alimentar”, vaticinou com olhar firme de um expert em lulas.


Depois de descoberta a trama por parte da grande imprensa inimiga, da CIA, e dos sindicatos de pescadores artesanais que nada sabiam sobre as boas intenções paralelas do “programa de táxi marítimo metropolitano”, a Ideli foi chamada a dar explicações no Planalto, por ordem da própria presidentA que, irritada, ao que se comenta nos círculos mais íntimos, estava possessa com a gestão “malfeita” com tamanhos recursos públicos e, pior, sem ela saber de nada sobre a captura dos cardumes alvos do camarada Bacha, tido nos bastidores do Planalto, como um raro representante da “verdadeira esquerda - esquerda de verdade” no governo Dilma.


Além disso, e o pior de tudo, inflando os gastos públicos com as aposentadorias compulsórias para todos os pescadores artesanais do País, acabando com as metas de contenção fiscal estabelecidas pela equipe econômica – “é o fim da picada”, teria dito aos brados durante convescote privado na “casa da Dilma”. O DEM, agora sem o Demóstenes, logo chamou a Ideli para conversas, solicitando liberação de algumas emendas de seus parlamentares, como forma de “suavizar” a ira de sua bancada e, como de costume, acordar o “jogo do bate e afaga”. Normal.
Ideli em café da manhã dando explicações a Ministros e senadores sobre a frota ultra-secreta de captura dos cardumes e do paralelo “programa de táxi marítimo metropolitano” em Floripa, sua base eleitoral.

“Pensando bem, não foi um malfeito tão grande assim, pois gerou empregos, muita renda, impostos, aumentou substancialmente a frota naval brasileira, e garantirá pensões vitalícias a milhares de pessoas hoje totalmente “desassistidas”.

Socorrendo os “neo-aloprados” da pescaria, o bispo Crivella, pescador de almas que, às pressas, se fez fellow em Princeton no “Curso Avançado e Intensivo de Estratégias Para Precisa Inserção de Minhocas em Anzóis”, não cansa em afirmar que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, ensaiando uma simpatia sacerdotal para o rebanho em Santa Catarina. Veja quadro ao lado ilustrativo de um dos incontáveis gráficos que estudou em sua virtual estada em Princeton.

Esse curso, tido no mundo como um dos mais completos e complexos, tem na capa dos seus fascículos a imagem de um rolo de minhocas, conotando o cérebro humano pensando sobre “como pescar em ambientes altamente conturbados”, tais quais as pastas ministeriais no Brasil. Ponto alto do curso é desvendar o “nó górdio” do rolo, caminho para fortalecimento no poder e abertura de rumos nunca antes imaginados na política, o que parece ser o caso de Crivella, fator que confirma sua qualidade.

Lá também aprendeu duramente como enfiar minhoca em anzol, operação de alto risco capturada pelas lentes precisas do repórter fotográfico da Caros Amigos que acompanhou seu périplo no velho mundo, a convite da Pesca, o que lhe valeu um cortezinho no dedo indicador.



Depois de feito o curso intensivo, já em solo brasileiro, foi ter com a presidentA, da qual escutou inúmeras advertências quanto ao seu papel à frente do Ministério, desconfiada de que o curso em Princeton não valeu grande coisa. “Bem feito, cortaste o dedo aprendendo a botar minhoca em anzol. Pelo menos te lembrarás quando fizeres algum mal feito”, teria dito no encontro.



A par das trapalhadas dos neo-aloprados da Pesca, Florianópolis saiu no lucro com o Programa de Taxi Marítimo Metropolitano, projeto ultra-secreto descoberto pela maldita grande imprensa. E, além do “defeso amplo”, agora resolveu de vez com os indigestos congestionamentos e, por tabela, ainda dispensou a quarta ponte.

Obs: Todos as análises retratadas nessa história são rigorosamente fictícias e não estabelecem qualquer relação com a vida social e política brasileira. Trata-se, pois, de mero exercício de ficção.


ANEXO REPORTANDO A OUTRO PROGRAMA DE “PESCARIA”, ESTE NÃO FICCIONAL.

Sob Ideli, Pesca deu R$ 770 mil para ONG criar peixe; projeto nunca vingou
Entidade alegou haver grande consumo de peixes na região, mas nenhum viveiro foi instalado
Alana Rizzo, de O Estado de S. Paulo – 04.04.12

BRASÍLIA - Durante a gestão da ministra Ideli Salvatti, o Ministério da Pesca liberou de uma só vez R$ 769,9 mil - de um contrato de R$ 869,9 mil - para a organização não governamental (ONG) de um funcionário comissionado do governo de Agnelo Queiroz (PT-DF) implantar, no entorno de Brasília, um projeto de criação de peixes que não saiu do papel.
Trata-se do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Integral da Natureza - Pró-Natureza, do diretor da Codeplan Salviano Antônio Guimarães Borges. Segundo a justificativa do projeto enviada ao ministério, o Distrito Federal, mesmo sem haver estatísticas oficiais sobre o tema, tem grande consumo e produção de peixes. Só que, 11 meses depois, nenhum viveiro foi instalado. Oficialmente, o projeto da ONG terminou nesta quarta-feira, 4. No Núcleo Rural Rajadinha, em Planaltina (DF), a 40 quilômetros da sede do ministério, mandiocas crescem no lugar dos tanques de tilápias. “O pessoal veio aqui uma vez no ano passado e ofereceu o projeto. Nós aceitamos e eles não apareceram mais. Achei que tinham desistido, mas tem 15 dias que voltaram e falaram que os tanques vão ficar prontos em julho. Parece que só agora o projeto foi aprovado e eles vão receber o dinheiro”, relata o agricultor Joami de Souza Ramos.
O agricultor diz que nunca criou peixes, tampouco participou de cursos ou qualquer atividade do projeto. Na chácara ao lado, incluída no rol de beneficiários do ministério, também não há sinal de tanques. Outros moradores do núcleo confirmam que nunca participaram de capacitações. O único viveiro no local é o de um sítio que está à venda e foi construído pelo próprio morador, que ainda aguarda os peixes do projeto para começar a criação. Documentos apresentados pela ONG ao ministério e obtidos pelo Estado mostram que, antes mesmo de receber qualquer recurso, a entidade pagou R$ 75,9 mil para a Rover Consultoria Empresarial Ltda. elaborar um diagnóstico sobre a pesca no entorno. A nota fiscal foi emitida em nome de Gabriel Miranda Pontes Rogério, um chef de cozinha. Sem nenhum tanque pronto ou cursos ofertados, a Pró-Natureza solicitou em 28 de outubro do ano passado, ao ministro Luiz Sérgio (PT-RJ), um aditivo de 16 meses e mais R$ 224,7 mil.
Segundo o ofício, os extras seriam para aprovação de novo cronograma. Pela proposta, entre dezembro e fevereiro de 2012 seriam oferecidos os cursos de capacitação e a obtenção das licença e outorgas para a construção dos viveiros; abril a julho, período de construção e lançamento de edital para aquisição de material; agosto e setembro, primeiro ciclo de criação de peixes; e janeiro e fevereiro de 2013, término do primeiro ciclo dos peixes.
Em 22 de março deste ano, a ONG encaminhou novo ofício cobrando o aditivo financeiro,agora do ministro Marcelo Crivella (PRB-RJ). No mesmo dia, o superintendente da Pesca no DF, o militante petista Divino Lúcio da Silva, pediu atenção especial ao projeto. O ministério chegou a alterar o nome do fiscal do contrato, obrigatório nos convênios, para que o controle ficasse sob a responsabilidade de Divino. Segundo a ONG, o projeto teria sido elaborado por Divino, indicado ao cargo pelo PT-DF, e por outros representantes do Colegiado Territorial das Águas Emendadas (Cotae). O grupo teria procurado a Fetraf, que levou o projeto à entidade. Esta, por fim, o apresentou ao ministério.
Em nota, o Ministério da Pesca informou que foram concluídas a realização do diagnóstico, a seleção das famílias, a obtenção das outorgas de água e o curso de tecnologia, além de parte do licenciamento ambiental e a impressão do material didático. Afirma que nada impede que o superintendente seja o fiscal do projeto. “Trata-se de um projeto com alcance social para o público de assentamento e agricultores familiares do Território da Cidadania das Águas Emendadas, composta por 11 municípios dos Estados de MG, GO e DF”, alega o ministério.
Justificativa. Por meio de sua assessoria, Ideli afirmou que o convênio com a ONG não foi firmado durante sua gestão. A execução e a liberação dos recursos foram feitas pela ministra em cumprimento ao cargo que ocupava. “Uma vez que não havia qualquer suspeição, a ministra não poderia se negar a pagar o convênio, correndo o risco de responder por não cumprir os compromissos firmados na gestão anterior”, diz sua assessoria. A reportagem tentou falar com Salviano, porém ele não respondeu. Um e-mail também foi encaminhado à ONG, com perguntas sobre o convênio. Também não houve resposta.
'Tenho curso de risotos', diz chef que recebeu R$ 75 mil

BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo – 05.04.12

A organização não governamental (ONG) beneficiada com um contrato de R$ 869.900 contratou um chefe de cozinha e blogueiro de culinária, proprietário da empresa Rover Consultoria, para preparar um diagnóstico sobre aquicultura nos 11 municípios da região das Águas Emendadas, no cerrado brasiliense. O valor do contrato: R$ 75.900. Em entrevista ao Estado, o dono da Rover, Gabriel Rogério, afirmou que não trabalhava com peixes. "Tenho agora um curso de filés, de risotos e de molhos. Faço cursos fechados, geralmente a partir de uma demanda."
O blogueiro de gastronomia também não lembrava de nenhum trabalho feito para o Ministério da Pesca. "Nunca fiz nada para o ministério. Nunca nem adicionei nada nas minhas receitas." Segundo Rogério, o contrato social da Rover foi alterado para focar na parte de cozinha. "A Rover era uma empresa de consultoria empresarial, que atuava na parte de digitalização e de processamento de documentos. Mas só prestou dois ou três serviços", disse o blogueiro.
Questionado sobre a relação com a ONG Pró-Natureza e Beatriz Borges, ele se lembrou de um trabalho. "Ah. Deve envolver esse serviço da Pesca. Não estou lembrando. Tem muito tempo. Já estou deixando de trabalhar com isso. Tem que falar com ela (Beatriz) mesmo."
Minutos depois, Beatriz Borges entrou em contato com o Estado e afirmou que o contrato com a Rover foi feito depois de Rogério mostrar um portfólio na área de geoprocessamento de dados. "Não é só porque ele tem um blog de cozinha que não pode prestar esse serviço. Não o conhecia, mas uma pessoa aqui sabia do trabalho dele e a Rover foi habilitada. Muito simples, como dois mais dois são quatro."
Funcionária pública por 26 anos, Beatriz, além de trabalhar na ONG, é presidente da Associação Brasiliense de Turismo Receptivo (Abare). "Não preciso de dinheiro. O projeto é para ajudar as famílias." Sobre os atrasos, ela diz ter tido "percalços", principalmente a seleção das famílias. "Fizemos mais de 45 visitas aos municípios. Infelizmente, quando você lida com o povo é assim. Estamos falando de famílias de baixa renda e sem recursos."
Criticando a burocracia, ela diz que 70% dos recursos estão no banco e o restante foi gasto. "Pedimos um aditivo para poder finalizar. O preço da tilápia subiu muito, assim como o adubo. Vou entregar os viveiros e alguém vai ter que entregar os peixes." A diretora da ONG nega qualquer irregularidade e avisa que esse foi seu primeiro contrato público. / A. R.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A VIRTUOSA SAGA DO GURI DE MERDA




A VIRTUOSA SAGA DO GURI DE MERDA

Guri: substantivo masculino originário da cultura gaúcha que nomina jovem de tenra idade até a fase adulta e, dependendo do humor, dali em diante. Seu emprego é dúbio, pois tanto pode ser entendido como um atributo positivo, quanto negativo, pejorativo, guri/personagem ao qual me reporto a seguir.

Pai: desconhecido

Mãe: ausente, não se sabe onde anda, do tipo “não to nem aí”.

Mãe de fato, mas não de direito: a avó, por parte da mãe, é claro.

Amiguinhos: a trupe da rua reunida tendo como maior diversão quebrar placas de sinalização, estourar lâmpadas e pichar muros com qualquer coisa.

Escola: posição indefinida (não de vagabundagem) na vida escolar, provavelmente situada entre a 3ª e a 5ª série do ensino fundamental.

Lazer preferido: derrubar latas de lixo nas vias públicas, matar passarinhos e todos os tipos de bichos vivos ao alcance, com especial foco nos “não domésticos”.

Vivendo com a avó, nas efêmeras passagens em casa, logo descobriu que ela guardava algum dinheiro da pensão vitalícia que recebia todo santo mês na condição de “filha solteira de general de brigada”, regalito previdenciário divino que só existe no Brasil e alguns poucos países hiper-desenvolvidos, aqueles nos quais não há miséria, pobreza, analfabetismo, entre outras mazelas nacionais.

Certo dia afanou um bocado do cofrinho da vovó e atribuiu o furto à empregada que, por sua vez, foi pro olho da rua amargar o desemprego total, já que fruía de um bico precário com a qual alimentava mais três crianças num barraco distante. Não é preciso dizer que nosso guri e sua família são brancos, e a empregada e sua família são negros.

Seu primeiro “investimento” na vida foi um lote de papelotes que generosamente distribuiu entre os amiguinhos, virando líder instantâneo dos mesmos. A trupe passou a infernizar todo o bairro dia e noite, cena comum na maioria das cidades já de longa data. O “som” e o ronco dos motores emolduravam a cena.

Aos 15 aninhos estuprou uma menina de 11 aninhos que, por azar, cruzou diante de seus olhos no carnaval. Oh maldito carnaval !!! Ato contínuo, consolidou ainda mais sua liderança sobre a trupe do bairro, cada vez mais mergulhada em drogas, arruaças e maldades de toda sorte. E, em meio a isso tudo, até freqüentava a escola dia sim, dia não, dependendo do humor e das ressacas.

Aos 16 aninhos, dirigindo um carro roubado para ir à balada, atropelou em altíssima velocidade uma família inteira que aguardava paciente em um ponto de ônibus o embarque que não chegava. Embarcaram para o céu sem aviso prévio. Restaram em terra dois sobreviventes: um menino e uma menina órfãos de pai, mãe e tia, também morta no acidente.

Liberado pela polícia um dia depois da chacina automobilística, e recomposto da bebedeira, teve que “prestar serviços comunitários” para os quais se safou, pois não havia nada a fazer objetivamente na comunidade, carente de ONGs filantrópicas, além de não haver quem cobraria dele a pena do “trabalho comunitário”.

Saindo impune com a morte de três pessoas, nosso guri mui esperto logo aprendeu que, com algum “jeitinho” maneiro, boas conexões em alguns “pontos sociais”, poderia subir na vida caso a sorte viesse a sorrir para ele.

Depois de longa e imprecisa jornada escolar, virtualmente conclusa, nosso guri convenceu a angélica vovó a lhe emprestar uma grana com a qual compraria um gabarito de vestibular no qual passaria, certamente, entre os primeiros lugares.

Nosso guri, agora universitário cursando direito em uma instituição pública e gratuita, pouco freqüentava salas de aula, a ponto de um belo dia, ao conversar com um sujeito mais idoso no bar da faculdade, descobriu que ele era, em verdade, um dos seus desconhecidos professores. A descoberta lhe gerou algumas folgas a mais, para sua satisfação intelectual e infinito gozo carnal.

Idas e vindas, jeitinho aqui, favor ali, finalmente bota a mão no canudo por força da ajuda que recebeu de alguns professores, decididos a se livrar dele o quanto antes, sob o mot “abrir uma vaga para alguém mais interessado nos estudos”.

Com o diploma de direito na mão, mais uma vez emprestou uma graninha da angélica vovó, com a qual adquiriu um gabarito da prova da OAB, porta que lhe abriria uma brilhante carreira jurídica, “sedutora” em todos os sentidos.

Na medida em que se inteirava do reino jurídico, nosso esperto guri já com mais de 20 anos, decorava algum juridiquês com o qual conseguia seduzir de meritis não só seus pares, jurisconsultos, meirinhos e escrivães, mas até mesmo atrair alguns incautos clientes, causas que, invariavelmente, perdia para a outra parte.

Descobriu que a língua é um instrumento de sedução e dominação sutil e muito eficiente, tanto quanto o dinheiro, onde reside o periculum in mora.

Fumus boni júris, contra legem, data vênia, habeas corpus, inaudita altera parts, entre incontáveis expressões oriundas de insondáveis pergaminhos seculares, todos eivados de alta circunspecção, impoluta seriedade, no mais elevado rito formal e de elevada prosopopéia, meticulosamente garimpada no enferrujado cânone greco-romano.

Suas sentenças, mais se assemelhavam a obras primas da literatura clássica, invariavelmente permeadas por expressões que se valiam do mais elevado vernáculo da língua portuguesa, tais como estas:

  
Chegando aos 30 anos de idade, nosso guri já tinha amealhado um sem numero de contatos muito quentes no judiciário por meio de sua onipresença nas festinhas da corte, baladas regadas a todo tipo de comes e bebes insuspeitos, todos de origem comprovada e com selinho de garantia. Nada de canapé mofado e uísque do Paraguai, coisa da “escumalha” social que tanto odiava.


O “pulo do gato” viria quando caiu na graça da filha de um desembargador, escada que lhe deu acesso rápido ao próprio, e com ele aprendeu o caminho mais curto para chegar a juiz de direito, renda fixa muito boa, mas tendo que abrir mão de certas liberdades, embora conservando seu modo de vida bem disfarçado. Fazer o quê? Alguma coisa teria que ceder em troca das regalias daquele “ingrato ofício”.

Concurso aberto, com sólidos “contatos de dentro”, obtidos com o seu virtual sogro, passaria com nota de distinção dentre um seleto grupo de dois concorrentes. Não passou em primeiro lugar, mas em 2º e, assim que se abriu uma vaga no interior, lá estava nosso recém nomeado juiz finalmente no exercício do cargo.

Cidadezinha de interior, mais parecida com algum bairro de periferia de grande cidade, na qual manda o triunvirato Prefeito, padre e o juiz, ambiente no qual os vereadores locais são menos “valiosos” que os despachantes de trânsito.

Entre todo tipo de processos, indenizações, sopapos e “crimes menores”, nosso guri sentenciou outro guri, este com seus 15 aninhos, condenando-o pela morte de cinco pessoas em acidente de trânsito, bêbado ao volante, a alguns “trabalhos voluntários”, assim como ele próprio havia sido sentenciado vinte anos antes. Como de praxe, nada aconteceu com o cumprimento da pena por parte do nosso guri de 15 anos, assassino (bêbado) de cinco pessoas.

Logo depois, sentenciou um sujeito por difamação que teria feito a um empresário local envolvido com notórias falcatruas na Prefeitura comprando emendas de zoneamento urbano de vereadores, a pagar R$ 100.000,00, cem mil reais, isto mesmo. O empresário era presidente do sindicato das empresas da construção civil.
 
Temeroso que uma apelação lhe impingisse pena ainda maior, o denunciante do empresário, cidadão honesto e trabalhador, SMJ, teve que vender sua propriedade que havia adquirido com muito suor e trabalho para pagar à vítima sua dívida pecuniária pela condenação. Depois de paga, o empresário dividiu com nosso guri a quantia e ambos ficaram ainda mais amigos, a partir de então parceiros diários de tênis no high-club social da cidade.

Banhos de piscina e festinhas sociais também viraram rotina na adorável e mansa vidinha do nosso guri, sempre acompanhado de sua cortês e vigilante esposa, aquela filha do desembargador, agora já aposentado.

Capítulo à parte, sua esposa era nobre contribuinte em todas as quermesses e atividades filantrópicas em toda a região, sempre portando os últimos cortes Armani, ou outras grifes importadas, espertamente compradas nos saldões promocionais, um vício insanável.


Também fazia parte do fausto “marketing social” da nossa dupla high socieity, participar de rotineiros cruzeiros, alguns dos quais dançando “Amada amante”, na voz de Roberto Carlos do qual, sempre recebia uma perfumada rosa vermelha.

Conexões granjeadas no uísque depois dos jogos de tênis, colocaram nosso guri em contato direto com o partido do então governador. Logo seria nomeado para desembargador em troca do compromisso de procrastinar todas as ações judiciais que implicavam possíveis penas a sua gangue. Não eram poucas.

O governador e a cúpula do seu partido, por sua vez, consolidaram com esse “golpe de mestre”, a maioria na cúpula do Judiciário Estadual, cenário que proporcionaria a ele a maior tranqüilidade para tocar adiante o seu probo governo.

Da mesma forma, no Legislativo, compondo folgada maioria por obra de nomeações no 1º, 2º e 3º escalões, o governador jamais enfrentaria alguma CPI ao longo da sua dinâmica e “revolucionária gestão”. No aperto, chamava algum desembargador que havia nomeado para dar um puxão de orelha no deputado insubmisso.

A doce vovó do nosso guri, a essas alturas já com 90 anos, continuou recebendo sua pensão vitalícia de “filha solteira de general”.

Nosso guri, assassino de três pessoas, bêbado ao volante, embora nunca tenha estudado qualquer coisa, tenha comprado três diplomas para passar no vestibular, na faculdade e na OAB, logo se aposentou como desembargador no topo da carreira, e hoje vive bem folgado numa vitoriana mansão no litoral catarinense, encravada numa encosta de morro íngreme em meio à Mata Atlântica, com vista paradisíaca, rodeado de bichinhos selvagens, um privilégio só para poucos deuses.

Agora aos 55 anos de idade, receberá todo mês modestos R$ 40.000,00 limpinhos. Pouco, é verdade, para sustentar tamanhos compromissos que o cercam, pelo resto de sua vida, cuja longevidade é estimada em cerca de 90 anos, como sua vovó.

Detalhe: todo ano compra uma Mercedes zerinho e freqüenta o cruzeiro do Roberto.

E para “passar o tempo, toda tarde, chova faça sol, joga bingo e dominó na praça central da cidade, quase incógnito misturado ao “povo” que tanto ama e para o qual tantos serviços prestou durante sua intensa e profícua vida profissional.

E assim termina “a virtuosa saga do guri de merda”.

Florianópolis, fevereiro de 2012
Gert Schinke

Obs: Todos os personagens dessa história são rigorosamente fictícios e não estabelecem qualquer relação com a vida social brasileira. Trata-se, pois, de um mero conto de ficção.



terça-feira, 13 de setembro de 2011

S O F T W A R E A B E R T O



      S O F T W A R E    A B E R T O


AÇÃO - EXEC

QUANTO CUSTA

QUANTO GANHA
Juntar os parceiros para registrar a firma, ENTER
Mixaria – trago barato - cachaça

Registrar a firma na Junta Comercial, ENTER
Mixaria – papelada básica

Contratar advogado criminal e contador em “regime de risco”, ENTER
Mixaria – papelada básica

Procurar “padinho parlamentar” oferecendo aporte na próxima campanha, ENTER
Mixaria – bares ou restaurantes

Procurar Secretários Municipais, Estaduais e Ministros oferecendo aporte para a próxima campanha deles, ENTER
Mixaria – bares ou restaurantes

Concorrer em licitação milionária com preço bem abaixo do mercado, ENTER
Mixaria – papelada básica

Subcontratar empresas para somente dar início à obra ou serviços, ENTER
10% do valor inicial – em cheques pré-datados

Fazer aditivo ao contrato para atualização de preços e ajustes na obra ou serviços, contando com o apoio dos parlamentares e secretários envolvidos, ENTER
Mixaria – papelada, propinas,presentes, promessa de apoio futuro à campanha
200% de acréscimo em cima do valor inicial do contrato
Fazer seu advogado falar com um desembargador “amigo” prevenindo eventuais problemas judiciais, ENTER
Mixaria – restaurante chique

Declarar falência da sua empresa deixando a obra ou serviços inconclusos, ENTER
Mixaria – papelada e dispensa dos empregados

Depositar a grana recebida do inicial e do aditivo em vários paraísos fiscais, ENTER
Mixaria – eventual turismo ao exterior

Pagar os sócios e parlamentares, ENTER
Até o teto de 50% do valor inicial do contrato

Enviar presentes ao juiz e desembargador, ENTER
Mixaria – cruzeiro marítimo ou obra de arte

Repatriar o dinheiro passando por várias contas e Caixas 2 de parlamentares com promessa de futuro apoio para suas campanhas eleitorais, ENTER
Mixaria – papelada, propinas para fiscais da receita, restaurantes e custos bancários

Investir “legalmente” em imóvel ou participação acionária na estatal que apresentar os maiores ganhos na bolsa – Petrobrás ou BB, ENTER
Tudo o que sobrou da empreitada
Dividendos fartos até o fim da vida
Candidatar-se na próxima eleição para parlamentar no Congresso, deputado ou senador, ENTER
Coletar dinheiro de outros empresários, agora para o seu Caixa 2
Prestígio, influência, poder e conexões
Eleger-se deputado federal ou senador, mesmo que suplente, ENTER
Caixa 2, sem qualquer custo para você
Impunidade garantida
Reeleger-se indefinidamente, mesmo que suplente, ENTER
Caixa 2, sem qualquer custo para você
Fica milionário garantido
Morrer rodeado de correligionários, ex-sócios, credores e beneficiários, ESC
Mixaria – enterro digno de príncipe
Nome de avenida na cidade