sábado, 14 de abril de 2012

PROGRAMA DE TÁXI MARÍTIMO ULTRA-SECRETO



Ninguém sabia ao certo o que fazia toda aquela frota de lanchas no pequeno trapiche da Intech Boating portando a logo SEAP na proa, acompanhada de um estranho código que vai de “01” a “28”. Poderia ser de algum “serviço estratégico de atendimento portuário”, ou coisa parecida. Mas logo se viu que não era nada disso.

Lancha fundeada no píer do Centrosul, com TJ, Forum da Capital e Morro da Cruz ao fundo. Obs: até agora não se sabe como ela chegou até ali.





O empresário já irritado diante da demora de tirá-las de lá, pois ocupando precioso espaço em seu mini-porto, resolveu botar a boca no trombone e dizer que foi achacado por um sujeito lhe pedindo contribuição para a campanha da Ideli para o governo de SC em 2010, em compensação pecuniária por ter sido “agraciado” pela fortuna de R$ 31 milhões, coisa que não cai todo dia na continha daquela micro-empresa de iates e barquinhos. E, afinal, deu um puta trabalho ir 
à Brasília, visitar um sem número de ilibadas figuras em vários Ministérios, além de comparecer de terno e gravata no pregão da licitação pública, sabedor, é claro, que ganharia de qualquer maneira qual fosse o concorrente que aparecesse. E apareceu concorrente, mas não levou, apesar de propor preço menor para fabricar as tais “lanchas patrulha”.

Tudo isso seria um disfarce para driblar os curiosos diante do mais engenhoso projeto de transporte marítimo já bolado em baías de águas calmas, como são as baías norte e sul entre a Ilha de Santa Catarina e o continente. Em verdade, trata-se de um projeto ultra-secreto que Dario e Ideli bolaram para resolver de uma vez por todas os gargalos de mobilidade urbana na região metropolitana de Florianópolis – “serviço de táxi marítimo metropolitano” ultra-veloz e, ao mesmo tempo, vigilante sobre os recursos marítimos e pesqueiros, sobre os quais tem enorme carinho.



Dario assinando o recebimento de uma lancha para o “Programa de Táxi Marítimo Metropolitano”, acompanhado de Ideli, Gregolin e Bacha, expert em “pescados em geral”.

“O que eu faço com uma lancha dessas?”, teria dito Dario na ocasião, espantado e surpreso diante da inusitada oferta. Mas assinou assim mesmo, pois advertido de que se não o fizesse, o PAC não liberaria dindin...

A CIA, porém, já havia botado o olho com seu satélite espião permanentemente estacionado sobre a Floripa mágica, e despachado agentes para olhar in loco a frota que se juntava no píer da Intech. As suposições iam desde uma eventual operação marítima do cartel dos Manaloa até uma ultra sofisticada operação terrorista da Al-Qaeda que, ao que indicariam as análises da inteligência, jogaria as lanchas sobre a recém inaugurada plataforma da OSX no litoral carioca, fazendo jorrar bolhas de petróleo durante o restante do século XXI. Outras suposições foram aventadas pelo quartel general da CIA em Langlei, mas ainda não foram divulgadas, por ora. 

Ideli tensa ao telefone orientando Dario para não falar do “programa de táxi marítimo metropolitano”, porque o mesmo foi descoberto pela CIA, uma vez que a notícia eliminaria o “fator surpresa” para lançar o programa para a população florianopolitana na semana do aniversário da cidade.
“NÃO, NÃO FALA NADA DARIO !! Faremos uma surpresa na campanha eleitoral.


Entrevistado sobre o fato de ter alguma sutil ligação com a ultra-secreta operação montada no litoral catarinense, o lugar tenente da Ideli, Bacha, grão articulador da sua campanha eleitoral, saiu-se melhor que os demais, atribuindo o acúmulo da frota no píer da Intech como uma “concentração para pegar de vez todos os cardumes de peixes ainda restantes no litoral brasileiro”, o que seria, segundo ele, uma prova cabal da proeza e eficácia da engenharia naval nacional em prol da pesca industrial. Em contrapartida, uma vez 
acabados os malditos peixes, todos os pescadores seriam automaticamente aposentados com o “defeso amplo”, pensão vitalícia para garantir-lhes a sobrevivência e o voto no PTzão nas futuras eleições até o mundo se acabar em 2062, cinqüenta anos depois do previsto por ele e Lula.

Bacha com leve ressaca posando ao lado de exemplares de perigosos peixes, alvos da frota destinada a eliminá-los completamente do litoral brasileiro, pois colocando em risco, segundo ele, a exploração do pré-sal e perturbando os surfistas, além de “bicudos” demais para seu gosto. Nem mesmo a dócil espécie “gadus morhua”, representada na figura ao lado, seria poupada.
“A única espécie que deixaremos livre nos mares do sul é a popular ‘lula petiscosensis’, inofensiva e amigável, para todos os efeitos, mas ainda temos alguma dúvida se ela conseguirá sobreviver aos efeitos colaterais diante da ausência dos peixes que conformam sua cadeia alimentar”, vaticinou com olhar firme de um expert em lulas.


Depois de descoberta a trama por parte da grande imprensa inimiga, da CIA, e dos sindicatos de pescadores artesanais que nada sabiam sobre as boas intenções paralelas do “programa de táxi marítimo metropolitano”, a Ideli foi chamada a dar explicações no Planalto, por ordem da própria presidentA que, irritada, ao que se comenta nos círculos mais íntimos, estava possessa com a gestão “malfeita” com tamanhos recursos públicos e, pior, sem ela saber de nada sobre a captura dos cardumes alvos do camarada Bacha, tido nos bastidores do Planalto, como um raro representante da “verdadeira esquerda - esquerda de verdade” no governo Dilma.


Além disso, e o pior de tudo, inflando os gastos públicos com as aposentadorias compulsórias para todos os pescadores artesanais do País, acabando com as metas de contenção fiscal estabelecidas pela equipe econômica – “é o fim da picada”, teria dito aos brados durante convescote privado na “casa da Dilma”. O DEM, agora sem o Demóstenes, logo chamou a Ideli para conversas, solicitando liberação de algumas emendas de seus parlamentares, como forma de “suavizar” a ira de sua bancada e, como de costume, acordar o “jogo do bate e afaga”. Normal.
Ideli em café da manhã dando explicações a Ministros e senadores sobre a frota ultra-secreta de captura dos cardumes e do paralelo “programa de táxi marítimo metropolitano” em Floripa, sua base eleitoral.

“Pensando bem, não foi um malfeito tão grande assim, pois gerou empregos, muita renda, impostos, aumentou substancialmente a frota naval brasileira, e garantirá pensões vitalícias a milhares de pessoas hoje totalmente “desassistidas”.

Socorrendo os “neo-aloprados” da pescaria, o bispo Crivella, pescador de almas que, às pressas, se fez fellow em Princeton no “Curso Avançado e Intensivo de Estratégias Para Precisa Inserção de Minhocas em Anzóis”, não cansa em afirmar que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, ensaiando uma simpatia sacerdotal para o rebanho em Santa Catarina. Veja quadro ao lado ilustrativo de um dos incontáveis gráficos que estudou em sua virtual estada em Princeton.

Esse curso, tido no mundo como um dos mais completos e complexos, tem na capa dos seus fascículos a imagem de um rolo de minhocas, conotando o cérebro humano pensando sobre “como pescar em ambientes altamente conturbados”, tais quais as pastas ministeriais no Brasil. Ponto alto do curso é desvendar o “nó górdio” do rolo, caminho para fortalecimento no poder e abertura de rumos nunca antes imaginados na política, o que parece ser o caso de Crivella, fator que confirma sua qualidade.

Lá também aprendeu duramente como enfiar minhoca em anzol, operação de alto risco capturada pelas lentes precisas do repórter fotográfico da Caros Amigos que acompanhou seu périplo no velho mundo, a convite da Pesca, o que lhe valeu um cortezinho no dedo indicador.



Depois de feito o curso intensivo, já em solo brasileiro, foi ter com a presidentA, da qual escutou inúmeras advertências quanto ao seu papel à frente do Ministério, desconfiada de que o curso em Princeton não valeu grande coisa. “Bem feito, cortaste o dedo aprendendo a botar minhoca em anzol. Pelo menos te lembrarás quando fizeres algum mal feito”, teria dito no encontro.



A par das trapalhadas dos neo-aloprados da Pesca, Florianópolis saiu no lucro com o Programa de Taxi Marítimo Metropolitano, projeto ultra-secreto descoberto pela maldita grande imprensa. E, além do “defeso amplo”, agora resolveu de vez com os indigestos congestionamentos e, por tabela, ainda dispensou a quarta ponte.

Obs: Todos as análises retratadas nessa história são rigorosamente fictícias e não estabelecem qualquer relação com a vida social e política brasileira. Trata-se, pois, de mero exercício de ficção.


ANEXO REPORTANDO A OUTRO PROGRAMA DE “PESCARIA”, ESTE NÃO FICCIONAL.

Sob Ideli, Pesca deu R$ 770 mil para ONG criar peixe; projeto nunca vingou
Entidade alegou haver grande consumo de peixes na região, mas nenhum viveiro foi instalado
Alana Rizzo, de O Estado de S. Paulo – 04.04.12

BRASÍLIA - Durante a gestão da ministra Ideli Salvatti, o Ministério da Pesca liberou de uma só vez R$ 769,9 mil - de um contrato de R$ 869,9 mil - para a organização não governamental (ONG) de um funcionário comissionado do governo de Agnelo Queiroz (PT-DF) implantar, no entorno de Brasília, um projeto de criação de peixes que não saiu do papel.
Trata-se do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Integral da Natureza - Pró-Natureza, do diretor da Codeplan Salviano Antônio Guimarães Borges. Segundo a justificativa do projeto enviada ao ministério, o Distrito Federal, mesmo sem haver estatísticas oficiais sobre o tema, tem grande consumo e produção de peixes. Só que, 11 meses depois, nenhum viveiro foi instalado. Oficialmente, o projeto da ONG terminou nesta quarta-feira, 4. No Núcleo Rural Rajadinha, em Planaltina (DF), a 40 quilômetros da sede do ministério, mandiocas crescem no lugar dos tanques de tilápias. “O pessoal veio aqui uma vez no ano passado e ofereceu o projeto. Nós aceitamos e eles não apareceram mais. Achei que tinham desistido, mas tem 15 dias que voltaram e falaram que os tanques vão ficar prontos em julho. Parece que só agora o projeto foi aprovado e eles vão receber o dinheiro”, relata o agricultor Joami de Souza Ramos.
O agricultor diz que nunca criou peixes, tampouco participou de cursos ou qualquer atividade do projeto. Na chácara ao lado, incluída no rol de beneficiários do ministério, também não há sinal de tanques. Outros moradores do núcleo confirmam que nunca participaram de capacitações. O único viveiro no local é o de um sítio que está à venda e foi construído pelo próprio morador, que ainda aguarda os peixes do projeto para começar a criação. Documentos apresentados pela ONG ao ministério e obtidos pelo Estado mostram que, antes mesmo de receber qualquer recurso, a entidade pagou R$ 75,9 mil para a Rover Consultoria Empresarial Ltda. elaborar um diagnóstico sobre a pesca no entorno. A nota fiscal foi emitida em nome de Gabriel Miranda Pontes Rogério, um chef de cozinha. Sem nenhum tanque pronto ou cursos ofertados, a Pró-Natureza solicitou em 28 de outubro do ano passado, ao ministro Luiz Sérgio (PT-RJ), um aditivo de 16 meses e mais R$ 224,7 mil.
Segundo o ofício, os extras seriam para aprovação de novo cronograma. Pela proposta, entre dezembro e fevereiro de 2012 seriam oferecidos os cursos de capacitação e a obtenção das licença e outorgas para a construção dos viveiros; abril a julho, período de construção e lançamento de edital para aquisição de material; agosto e setembro, primeiro ciclo de criação de peixes; e janeiro e fevereiro de 2013, término do primeiro ciclo dos peixes.
Em 22 de março deste ano, a ONG encaminhou novo ofício cobrando o aditivo financeiro,agora do ministro Marcelo Crivella (PRB-RJ). No mesmo dia, o superintendente da Pesca no DF, o militante petista Divino Lúcio da Silva, pediu atenção especial ao projeto. O ministério chegou a alterar o nome do fiscal do contrato, obrigatório nos convênios, para que o controle ficasse sob a responsabilidade de Divino. Segundo a ONG, o projeto teria sido elaborado por Divino, indicado ao cargo pelo PT-DF, e por outros representantes do Colegiado Territorial das Águas Emendadas (Cotae). O grupo teria procurado a Fetraf, que levou o projeto à entidade. Esta, por fim, o apresentou ao ministério.
Em nota, o Ministério da Pesca informou que foram concluídas a realização do diagnóstico, a seleção das famílias, a obtenção das outorgas de água e o curso de tecnologia, além de parte do licenciamento ambiental e a impressão do material didático. Afirma que nada impede que o superintendente seja o fiscal do projeto. “Trata-se de um projeto com alcance social para o público de assentamento e agricultores familiares do Território da Cidadania das Águas Emendadas, composta por 11 municípios dos Estados de MG, GO e DF”, alega o ministério.
Justificativa. Por meio de sua assessoria, Ideli afirmou que o convênio com a ONG não foi firmado durante sua gestão. A execução e a liberação dos recursos foram feitas pela ministra em cumprimento ao cargo que ocupava. “Uma vez que não havia qualquer suspeição, a ministra não poderia se negar a pagar o convênio, correndo o risco de responder por não cumprir os compromissos firmados na gestão anterior”, diz sua assessoria. A reportagem tentou falar com Salviano, porém ele não respondeu. Um e-mail também foi encaminhado à ONG, com perguntas sobre o convênio. Também não houve resposta.
'Tenho curso de risotos', diz chef que recebeu R$ 75 mil

BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo – 05.04.12

A organização não governamental (ONG) beneficiada com um contrato de R$ 869.900 contratou um chefe de cozinha e blogueiro de culinária, proprietário da empresa Rover Consultoria, para preparar um diagnóstico sobre aquicultura nos 11 municípios da região das Águas Emendadas, no cerrado brasiliense. O valor do contrato: R$ 75.900. Em entrevista ao Estado, o dono da Rover, Gabriel Rogério, afirmou que não trabalhava com peixes. "Tenho agora um curso de filés, de risotos e de molhos. Faço cursos fechados, geralmente a partir de uma demanda."
O blogueiro de gastronomia também não lembrava de nenhum trabalho feito para o Ministério da Pesca. "Nunca fiz nada para o ministério. Nunca nem adicionei nada nas minhas receitas." Segundo Rogério, o contrato social da Rover foi alterado para focar na parte de cozinha. "A Rover era uma empresa de consultoria empresarial, que atuava na parte de digitalização e de processamento de documentos. Mas só prestou dois ou três serviços", disse o blogueiro.
Questionado sobre a relação com a ONG Pró-Natureza e Beatriz Borges, ele se lembrou de um trabalho. "Ah. Deve envolver esse serviço da Pesca. Não estou lembrando. Tem muito tempo. Já estou deixando de trabalhar com isso. Tem que falar com ela (Beatriz) mesmo."
Minutos depois, Beatriz Borges entrou em contato com o Estado e afirmou que o contrato com a Rover foi feito depois de Rogério mostrar um portfólio na área de geoprocessamento de dados. "Não é só porque ele tem um blog de cozinha que não pode prestar esse serviço. Não o conhecia, mas uma pessoa aqui sabia do trabalho dele e a Rover foi habilitada. Muito simples, como dois mais dois são quatro."
Funcionária pública por 26 anos, Beatriz, além de trabalhar na ONG, é presidente da Associação Brasiliense de Turismo Receptivo (Abare). "Não preciso de dinheiro. O projeto é para ajudar as famílias." Sobre os atrasos, ela diz ter tido "percalços", principalmente a seleção das famílias. "Fizemos mais de 45 visitas aos municípios. Infelizmente, quando você lida com o povo é assim. Estamos falando de famílias de baixa renda e sem recursos."
Criticando a burocracia, ela diz que 70% dos recursos estão no banco e o restante foi gasto. "Pedimos um aditivo para poder finalizar. O preço da tilápia subiu muito, assim como o adubo. Vou entregar os viveiros e alguém vai ter que entregar os peixes." A diretora da ONG nega qualquer irregularidade e avisa que esse foi seu primeiro contrato público. / A. R.

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