sábado, 29 de janeiro de 2011

ECO-POLÍTICA DA PESADA




Alerta que vem da lama
Biogeógrafo americano Jared Diamond afirma que estamos sob risco de suicídio ecológico, mas há saída

Ivan Marsiglia e Carolina Rossetti - O Estado de S.Paulo – 22.01.11

Rubbish! É a resposta - em bom inglês - do biogeógrafo americano Jared Diamond para a pergunta sacada com frequência pelos "céticos do clima" no afã de congelar o debate ambiental: o aumento da temperatura do planeta, ao qual se atribui a intensificação dos ciclos de calor e frio testemunhada hoje por toda a parte, pode ser o resultado de um ciclo natural da Terra? Rubbish - lixo, besteira. "A ideia de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje são naturais é tão ridícula quanto a que nega a evolução das espécies", fustiga o autor de Colapso (Record, 2005), um tratado multidisciplinar de 685 páginas na edição brasileira que analisa as razões pelas quais grandes civilizações do passado entraram em crise e virtualmente desapareceram. E a questão assustadora que emerge de seu olhar sobre as ruínas maias, as estátuas desoladoras da Ilha de Páscoa ou os templos abandonados de Angkor Wat, no Camboja, é: será que o mesmo pode acontecer conosco?
A resposta de Diamond, infelizmente, é sim. Ganhador do Prêmio Pulitzer por sua obra anterior, Armas, Germes e Aço (Record, 1997), em que focaliza as guerras, epidemias e conflitos que dizimaram sociedades nativas das Américas, Austrália e África, o cientista americano há anos nos adverte sobre os cinco pontos que determinaram a extinção de civilizações inteiras. O primeiro, é a destruição de recursos naturais. O segundo, mudanças bruscas no clima. O terceiro, a relação com civilizações vizinhas amigas. O quarto, contatos com civilizações vizinhas hostis. E, o quinto, fatores políticos, econômicos e culturais que impedem as sociedades de resolver seus problemas ambientais. Salta aos olhos em sua obra, portanto, a centralidade que tem a ecologia na sobrevivência dos povos.
Foi na semana subsequente à pior catástrofe natural da história do País, na região serrana do Rio de Janeiro - a mesma em que um arrepiante tornado surgiu nos céus de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense -, que Jared Diamond falou por telefone ao Aliás. Às vésperas do lançamento no Brasil de um de seus primeiros livros, O Terceiro Chimpanzé (1992), o professor de fisiologia e geografia da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, fala das providências cruciais que o ser humano deverá tomar nos próximos anos para garantir sua existência futura. Diz que as elites políticas, seja nos EUA, na Europa, nos países pobres e nos emergentes, tendem a tomar decisões pautadas pelo retorno em curto prazo - até um ponto em que pode não haver mais retorno. Avalia que o Brasil dos combustíveis verdes tem sido "uma inspiração para o mundo", mas também um "mau exemplo" na preservação de suas florestas tropicais. E fala da corrida travada hoje, cabeça a cabeça, entre "o cavalo das boas políticas e aquele das más", que vai determinar o colapso ou a redenção das nossas próximas gerações.
O Brasil enfrentou tempestades de verão que mataram mais de 700 pessoas. Debarati Guha-Sapir, do Centro de Pesquisas sobre a Epidemiologia de Desastres da ONU, disse que o tamanho da tragédia é indesculpável, pois o País tem apenas um desastre natural para gerenciar. Como evitá-lo no futuro?
Precisamos estar preparados para um número cada vez maior de tragédias humanas relacionadas a mudanças climáticas. O clima se tornará mais variável. O úmido será mais úmido e o seco, mais seco. A Austrália, por exemplo, acaba de sair da maior seca de sua história recente e agora enfrenta o período mais úmido já registrado no país. Em Los Angeles, onde moro, recentemente tivemos o dia mais quente da história e, há algum tempo, o ano mais chuvoso e também o mais seco que a cidade já viu.
Em seus escritos, o sr. aponta a Austrália como um país com estilo de vida antagônico às suas condições naturais. Mas, em comparação com o Brasil, os australianos se saíram melhor: enfrentaram a pior enchente em 35 anos, mas contabilizaram apenas 30 mortos. Como explicar isso?

É verdade que o modo de vida dos australianos não está em harmonia com suas condições naturais. Mas o estilo de vida dos americanos e dos brasileiros tampouco. O modo de vida do mundo não está em harmonia com as condições naturais deste próprio mundo. No caso da Austrália, o país fica no continente que tem o meio ambiente mais frágil, o clima mais variável e o solo menos produtivo. Mas a Austrália é um país rico e dispõe de mais dinheiro que o Brasil para criar uma infraestrutura que gerencie tais problemas. Em Los Angeles, onde as enchentes são recorrentes, não resta um rio em seu leito natural: todos receberam canais de concreto para reduzir o risco de enchentes. A minha casa fica literalmente em cima de um córrego coberto por uma estrutura de concreto. Nos 34 anos em que vivi nessa casa, apenas duas vezes a água invadiu o porão.
Em Colapso, o sr. lista cinco razões que explicam o declínio das sociedades. Elas continuam as mesmas?
Sim. Os cinco fatores que levo em consideração ao tentar entender por que uma sociedade é mais ou menos propícia a entrar em colapso são, em primeiro lugar, o impacto do homem sobre o meio ambiente. Ou seja, pessoas precisam de recursos naturais para sobreviver, como peixe, madeira, água, e podem, mesmo que não intencionalmente, manejá-los erradamente. O resultado pode ser um suicídio ecológico. O segundo fator que levo em conta é a mudança no clima local. Atualmente, essa mudança é global, e resultado principalmente da queima de combustíveis fósseis. O terceiro fator são os inimigos que podem enfraquecer ou conquistar um país. O quarto são as aliados. A maioria dos países hoje depende de parceiros comerciais para a importação de recursos essenciais. Quando nossos aliados enfrentam problemas e não são mais capazes de fornecer recursos, isso nos enfraquece. Em 1973, a crise do petróleo afetou a economia americana, que dependia da importação do Oriente Médio de metade dos combustíveis que consumia. O último fator recai sobre a capacidade das instituições políticas e econômicas de perceber quando o país está passando por problemas, entender suas causas e criar meios para resolvê-los.
O colapso da sociedade como hoje a conhecemos é evitável ou apenas prorrogável?

É completamente evitável. Se ocorrer, será porque nós, humanos, o causamos. Não há segredo sobre quais são os problemas: a queima exagerada de combustíveis fósseis, a superexploração dos pesqueiros no mundo, a destruição das florestas, a exploração demasiada das reservas de água e o despejo de produtos tóxicos. Sabemos como proceder para resolver essas coisas. O que falta é vontade política.
O Brasil tem feito sua parte?
Nunca estive no Brasil, portanto não posso falar a partir de uma experiência de primeira mão. Mas pelo que entendo, vocês adotaram uma solução imaginativa para a questão energética, com a produção de etanol. O Brasil é uma inspiração para o resto do mundo em relação aos carros flex. Por outro lado, mesmo que o País esteja consciente dos riscos de se desmatar a maior floresta tropical do mundo, muito ainda precisa ser feito. A Amazônia é muito importante para os brasileiros, pois ela regula o clima do país. Se a destruírem, o Brasil inteiro sofrerá com as secas.
De que maneira as elites tomadoras de decisão podem encabeçar a solução dos problemas ou ser responsáveis por conduzir sociedades à autodestruição?

Uma elite que foi competente em solucionar problemas é a composta por políticos dos Países Baixos, que têm grandes dificuldades com o manejo de água, já que um terço da área desses países está abaixo do nível do mar. A Holanda investiu uma quantidade enorme de dinheiro no controle de enchentes. Uma coisa que motivou os políticos holandeses é que muitos deles vivem em casas que estão sob o nível do mar. Eles sabem que se não resolverem a coisa vão se afogar com os demais. Outra elite razoavelmente bem-sucedida é a realeza do Butão, nos Himalaias. O rei butanês disse ao seu povo que o país precisa se tornar uma democracia quer queira, quer não. Ele também anunciou que a meta do país não é aumentar o PIB, mas elevar o índice que mede a felicidade nacional. Isso é verdadeiramente uma meta maravilhosa. Nos EUA, temos políticos poderosos com uma visão curta e destrutiva. Acho que contamos com um bom presidente, mas temos uma oposição cujos objetivos no presente momento se resumem a ganhar a próxima eleição presidencial e, repetidamente, tem negado a existência da mudança climática e do aquecimento global.
De que forma o declínio de sociedades antigas pode nos servir de lição?

Algumas sociedades do passado cometeram erros decisivos, outras agiram com sabedoria e tiveram longos períodos de estabilidade. Um vizinho de vocês, o Paraguai, é um exemplo de país que cometeu um erro crucial, há 120 anos: lutar simultaneamente contra Brasil, Argentina e Uruguai. Isso resultou na morte de 80% dos homens e um terço da população. Tomando como exemplo o Paraguai, precisamos aprender a adotar metas realistas. Podemos aprender também com os países que manejam bem seus recursos, como a Suécia e a Noruega, ou tomar como mau exemplo a Somália - que desmatou suas florestas e hoje sofre com a seca. Em defesa da Somália, podemos argumentar que o país não conta com um grande número de ecologistas capacitados, ao contrário de Brasil e EUA.
O sr. estudou a ascensão e queda de sociedades no passado, mas o que se discute agora é o futuro da própria humanidade. Sua teoria é capaz de explicar os desafios do mundo globalizado?

Sim. É verdade que esta é a primeira vez na história que enfrentamos o risco de o mundo inteiro entrar em colapso. No passado, o colapso do Paraguai, por exemplo, não teve nenhum efeito na economia da Índia ou da Indonésia. Hoje, até mesmo quando um país remoto, como a Somália ou o Afeganistão, entra em colapso isso repercute ao redor do mundo. Mas, por analogia, é possível tirar conclusões semelhantes.
O geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001) enfatizou aspectos socioculturais para explicar os dilemas da sociedade, enquanto seu trabalho é considerado por alguns como geodeterminista. Aspectos culturais não teriam mais influência sobre o futuro das sociedades que os naturais?

Com frequência as pessoas me perguntam se isso ou aquilo é mais importante para explicar o declínio das sociedades. Questões como essas são ruins. É o mesmo, por exemplo, que perguntar sobre as causas que levaram ao fracasso de um casamento. O que é mais importante para manter um casamento feliz? Concordar sobre sexo ou dinheiro, ou crianças, ou religião, ou sogros? Para se ter um casamento feliz é preciso estar de acordo a respeito de sexo e crianças e dinheiro e religião e sogros. O mesmo se dá no entendimento do colapso de sociedades. Fatores culturais são importantes, mas diferenças ambientais não podem ser ignoradas. Por exemplo, as regiões Sul e o Sudeste do Brasil são mais ricas que a Norte. Isso é por causa do meio ambiente, não porque as pessoas no norte sejam burras e as do sul mais inteligentes ou cultas. A explicação é que o norte do país é mais tropical e áreas tropicais tendem a ser mais pobres porque têm menos solos férteis e mais doenças. O mesmo é verdade nos EUA, onde até 50 anos atrás o sul foi sempre mais pobre que o norte. Ao redor do mundo, esse padrão é repetido: países tropicais tendem a ser mais pobres que os de zonas temperadas.
Que sociedades estão em colapso hoje?
Todas as sociedades do mundo estão em risco de colapso. Se a economia mundial colapsar isso afetará todos os países. Nós vimos o que houve dois anos atrás, quando o mercado financeiro americano quebrou, afetando todas as bolsas do mundo. Então, embora todos os países estejam em risco de colapso, alguns estão mais próximos dele do que outros - por uma maior fragilidade ambiental, porque são menos maduros política ou ecologicamente ou por qualquer outro motivo. Por exemplo, o Haiti, que retornou agora às manchetes com a volta do ditador Baby Doc, viu seu governo virtualmente colapsar e continua em grande dificuldade. O México enfrenta dificuldades gravíssimas relacionadas a problemas ecológicos, com a aridez de suas terras, e políticos, com a onda de assassinatos ligada ao tráfico de drogas. Paquistão é um exemplo óbvio, Argélia, Tunísia, que também estão no noticiário... Do outro lado, dos países com menos risco de colapso estão a Nova Zelândia, o Butão e, na América Latina, a Costa Rica. Chile também vai bem. E o Brasil tem melhores perspectivas que vizinhos como a Bolívia, claro.
Países podem se recuperar do colapso?
O colapso normalmente não é definitivo. Houve colapsos no passado que foram sucedidos por retomadas. O Império Romano caiu e, apesar disso, a Itália é hoje um país de Primeiro Mundo.
A Europa, onde o debate a as leis de proteção ambiental mais avançaram, também entrou em crise. Quando isso ocorre, há risco de retrocesso nas políticas ambientais?

É possível. Muita gente sustenta que, quando a economia está fraca, não se consegue investir como se deve no meio ambiente. O colapso econômico de fato põe em risco os avanços em sustentabilidade. Só que os problemas ambientais só são fáceis de resolver nos estágios iniciais. Nesse ponto custam menos, mas se aguardamos 20 ou 30 anos, eles se tornarão muito caros ou impossíveis de solucionar.
Nos EUA, quando o presidente Obama condicionou empréstimos às montadoras americanas ao investimento em carros mais baratos e menos poluentes, a crise não ajudou?

Tanto as crises econômicas podem ter bons efeitos para a política ambiental como fazê-la retroceder. Nos EUA, antes do crash financeiro, estava muito em moda o Hummer, um jipe de 3 toneladas, versão civil de um veículo militar utilizado no Iraque. Era caríssimo e gastava horrores em combustível. Aparentemente, suas vendas despencaram e isso é um efeito positivo da crise econômica. Ainda assim, há americanos ignorantes que ainda insistem em dizer que, uma vez que estamos em crise, podemos deixar a agenda ecológica de lado.
Há modelos econômicos melhores e piores no que diz respeito aos danos ecológicos?
No momento em que falamos, tenho que dizer que o modelo econômico americano não parece ser o mais adequado. Por outro lado, somos uma democracia, com maus políticos, mas também bons - que denunciam os problemas que põem em risco o futuro. Numa ditadura comunista, por exemplo, isso seria impossível. Gosto do sistema capitalista porque ele pressupõe competição, inclusive de ideias. Mas aprecio também o papel do Estado em interferir no capitalismo, evitando os monopólios e enfrentando grupos cujos interesses vão de encontro aos da maioria da população. Em comparação, eu diria que o modelo europeu de capitalismo, mais socializado e comprometido com o bem comum, é atualmente a alternativa menos ruim.
Alguns cientistas afirmam que não se pode dizer ao certo que o aquecimento global seja culpa da ação do homem; pode ser parte de um ciclo natural da Terra.
Sabe a palavra inglesa rubbish? Significa lixo, mas é usada em linguagem coloquial em referência a ideias ridículas. O argumento de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje sejam apenas naturais é simplesmente ridículo. Tanto como aquele que nega a evolução das espécies. As evidências de que tais mudanças se devem a causas humanas são irrefutáveis. Os anos mais quentes registrados em centenas de anos se concentram nos últimos cinco que passaram. O planeta já enfrentou flutuações de temperatura no passado, mas nunca nos padrões registrados hoje. Não conheço um único cientista respeitável que afirme que as atuais mudanças de clima não se devam à ação humana. É por isso que eu digo: rubbish.
Seis anos depois do lançamento de Colapso, o sr. está mais otimista ou pessimista em relação ao futuro de nossa civilização?
Diria que me mantenho mais ou menos no mesmo nível. Tenho visto coisas ruins piorarem e boas tornarem-se melhores. O que mais me preocupa é que continuamos vendo um aumento vertiginoso do consumo no mundo, seja nos EUA, na China, na Índia ou no Brasil. O que me anima é que cada vez mais pessoas reconhecem a gravidade da situação e estão tomando iniciativas. Uma metáfora que gosto de usar é a da corrida de cavalos. Há dois deles correndo agora, o cavalo da destruição e o cavalo das boas políticas. Nestes últimos seis anos, eu diria que os dois têm corrido cada vez mais rápido, disputando cabeça a cabeça. Não sei qual vencerá a corrida, mas diria que as chances do cavalo do bem vencer são de 51%, enquanto o das más políticas tem 49%. E, se nossa destruição não é certa, nem um destino inescapável, é preciso saber que se não tomarmos medidas urgentes vamos ter grandes problemas.
A indústria do entretenimento mostra, cada vez mais, imagens do fim do mundo, prédios em ruínas, cidades abandonadas. Por que somos tão fascinados por nossa destruição?
Parte disso se deve à força romântica das imagens de civilizações passadas que entraram em colapso, como as ruínas dos maias, incas e astecas. Ou os escombros das guerras no Iraque e no Irã. E pensamos: quem construiu aqueles templos e monumentos, tinha uma cultura e arte admiráveis, podia imaginar que isso aconteceria? Por que essas civilizações entraram em colapso, sem poder evitar? E nos angustiamos: será que isso também vai acontecer conosco?




quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

GELECA ELEITORAL


GELECA ELEITORAL

CORRA, O KRAKEN ESTÁ SOLTO !!!
Quando Zeus se irritava ao saber das patifarias dos homens, soltava o KRAKEN, gigantesco monstro que saía das profundezas para castigar os humanos e torná-los novamente subservientes aos deuses do Olimpo. Não fazia a menor idéia de que, passados alguns milênios, o KRAKEN estaria soltinho da silva num país tropical no qual “plantando tudo dá”. O monstro não é qualquer coisa em termos de destruição premeditada, é simplesmente o melhor instrumento que Zeus tem para mostrar sua força. No século do “progresso material ilimitado”, com astuta dissimulação, o KRAKEN assumiu a forma de novas centrais nucleares, e possíveis submarinos também, Belo Monte, transposição do São Xico, um sem número de centrais hidrelétricas, muita monocultura para exportação, muitos portos novos para exportação, muitos frigoríficos novos para exportação, muitos e muitos etc, etc... Tudo plasmado pelo onipresente “desenvolvimento sustentável”, objeto de estudo desse libelo na edição anterior (disputada a tapa) – “Farinha do mesmo desenvolvimento sustentável”. O KRAKEN, que adora mar, gosta de instalar grandes estaleiros em áreas muitos sensíveis  só para perturbar os botos e outros animais, pois, além de abominá-los, os come vorazmente. Todos eles. No embalo do bolero “Engana-me mucho”, o KRAKEN tem seus fiéis aliados na Terra: várias empresas contendo a indelével letra “X”, a pan-patriótica e pré-salínica PETROBRAX, sempre muito atenta com a manutenção de suas inaufragáveis plataformas (a P-36 já foi esquecida), fosfateiras, cimenteiras, siderúrgicas, mineradoras e, para saciar o KRAKEN, muitos frigoríficos. Zeus escuta o bolero enquanto enxerga do céu a fumaça que o KRAKEN origina com seu incansável quebra-quebra, incendiando tudo que pode queimar, para “produzir mais riqueza” e, assim, consolidar seus insondáveis domínios sobre os homens. Para 

sua sorte e delírio, ele achou uma candidata no patropi, a MEDUSA que faz e promete a continuidade do serviço, além dos aliados de sempre, mamadores do Estado, que enriquecem como nunca “nesse país”. O espetáculo daria um enredo de carnaval como jamais visto, além da imaginação de um Adoniran Barbosa. Na turma krakenta ninguém está preocupado em providenciar saneamento básico para 90 milhões de patropis sem rede coletora de esgotos, e do volume coletado nas cidades (dos demais 90 milhões de patropis) apenas 30% com algum tratamento ao estilo “casan-básico”, o cofrinho sanguessuga que alimenta empreiteiras e partidos. Enquanto os aliados do KRAKEN enchem os bolsos de dinheiro, o povo nada na merda, literalmente. A última que os ekoxatos bolaram para uma boa governança da krakenturma: “Para o povo, pão, circo e merda”. Não se incomode, é só 

brincadeirinha de criança, como as que se ouve na propaganda eleitoral: babadu, babada, lelelê, lalalá, lululu, tátátá, o paraíso vai chegar, tralalá, tralalá...


PROPAGANDA ELEITORAL COMERCIAL GRATUITA NO RÁDIO

Um dos vários sintomas de uma conhecida, e bastante estudada, doença política degenerativa, é quando se observa o discurso em época de eleições no patropi. A candidata representante do KRAKEN em SC, ex-sindicalista e há um bom tempo política profissional de carreira cujo sindicato nacional é muito forte e bem organizado, saiu-se com essa no programa de rádio da propaganda eleitoral: “...até lembrei ao Presidente Lula que lá no sul da ilha tem aquele restaurante famoso do .... (o nome que começa com a letra “A” não me atrevo a colocar para não fazer desse libelo propaganda gratuita para ele). Imagina a cara dos demais proprietários de restaurantes da ilha ao escutarem uma candidata ao Governo do Estado mencionar um “famoso restaurante” NA PROPAGANDA ELEITORAL GRATUITA NO RÁDIO. Eu não imaginava que tamanha baixaria, promiscuidade - o adjetivo mais aplicável me falta no vernáculo, pudesse acontecer na propaganda eleitoral gratuita, espaço este conquistado a duras penas para aprofundar a democracia, agora a serviço de pessoas que o utilizam para reproduzir a anti-política, a demagogia barata, vendendo marca de restaurante, uma humilhação total para todos nós cidadãos que queremos algo mais que meros despachantes de empresas e cheque-delivery de verbas públicas para projetinhos de mentirinha. Além de fazer propaganda de restaurante, a dinâmica candidata também recebe o maior cortejo do PDP-killer Dario, que justo em agosto, completa 4 anos de grotesca e ilegal  empulhação do processo de revisão obrigatório do Plano Diretor da cidade. Lesa-cidade é o nome que um senador romano daria ao plano&trambique, metamorfoseado pelo esquecimento e frustração popular, que agora, em modo PETÊPEMÊDEBÊ, acomoda o ilibado alcaide sob as asas da nossa promoter de restaurante. Em linguagem popular, farinha do mesmo kraken-saco. Já o seu ex-vice, agora licenciado e concorrendo a uma vaga para deputado estadual, ostenta garbosamente a bandeira da implantação de ciclovias e de transporte marítimo entre ilha e continente. Fico imaginando porque ao longo de “apenas 7 anos e meio” só deu para fazer algumas ciclo-gambiarras que levam de lugar algum a lugar nenhum, e pensar tanto (tanto assim) no transporte marítimo, coisa que já retrocede ao século passado? Esse espetáculo só a geleca eleitoral pode explicar. Nesse circo você é o palhaço.

O BRASIL NÃO TEM ELITE. TEM CLASSE ALTA.

EIKE & CIA – DOLCE E GABANA com MORENA ROSA
Deu, ontem, no @VEJA: “Eike financia Dilma e Serra ‘em prol da democracia’. E por medo de retaliação”.

SENATUS MÁXIMUMQualquer semelhança não é mera coincidência entre o brasileiro e o romano, com a diferença que os últimos eram “nobres” e os atuais são meros “cidadãos”, iguais a eu, tu, ele, nós, vós, eles. Imagina se fossem “nobres”, o que mais fariam?

Arquivo de Dilma, em 28 de junho, respondendo no "Roda Viva" a pergunta da Folha sobre a violação do sigilo fiscal de Eduardo Jorge:
"Enquanto vocês não demonstrarem a prova, é uma acusação, do nosso ponto de vista, infundada". Anteontem, a Corregedoria da Receita atestou que foram violados os sigilos não apenas do vice-presidente do PSDB mas também de outras três pessoas ligadas ao partido.

FARINHA DO MESMO “DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”


FARINHA DO TIPO GROSSO

A VÍTIMA E O COMUNISTA - Vou lhes contar uma historinha. O personagem da direita, Olívio Dutra, com o qual já comi alguns churrasquinhos nos momentos áureos do PT lá nos idos dos anos 80, conduz a “sua” (QI do Lula) candidata à presidência, ladeada por um personagem que me é muito familiar – Alceu Colares. Dois ex-prefeitos da capital gaúcha, sendo que a candidata, ex-secretária de finanças da Prefeitura na gestão de Olívio.
Subi na chaminé do Gasômetro (de 124m de altura) em uma ação/protesto que ficou conhecida como a “tomada da chaminé”, em 17.08.1988, contra um mega-projeto urbanístico que Colares, arquiinimigo do movimento ecológico, queria edificar ao longo da orla do Guaíba. Graças aos sucessivos protestos que desencadeamos na cidade, foi possível eleger a primeira gestão da Frente Popular e derrotar Colares em acirradíssima e histórica disputa entre a “nova esquerda emergente” e o “arcaico trabalhismo”. Nos anos que se sucederam, foi graças a minha presença e de outros colegas simpáticos às propostas ecológicas na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, e contando com a pressão do movimento ecológico e popular, que conseguimos preservar e consolidar os Parques Marinha do Brasil e Maurício Sirotsky Sobrinho, embora estes sempre estivessem sob constante ameaça por parte da especulação imobiliária e da miopia desenvolvimentista que graça “nesse país”. Não me espanta agora ver os dois reunidos e festejando sua candidata comum, pois ambos, além da candidata, têm muito mais em comum do que nossa vã imaginação alcança, embora em anos passados faziam um criativo esforço para se diferenciar. Comungam o mesmo projeto de  







desenvolvimento para o país e sua retórica é mero artifício para produzir virtual diferenciação política. Resumo da ópera; farinha do mesmo saco, sob o olhar ecológico, certamente. Tantos bi aqui, tantos bi ali, e lá vamos nós em inexorável jornada rumo ao nirvana do concreto armado. Detalhe: em 1990 não agüentei mais o “jeitinho petista de governar” e sai do partido honrando as propostas ecológicas que me elegeram vereador portoalegrense, entre as quais, as ciclovias. As bandeiras que defendia tinham mais valor para mim do que uma hipotética “carreira política”. Embora eu consegui aprovar um “Plano Cicloviário para Porto Alegre”, somente depois de passadas quatro gestões de Frente Popular (leia-se PT) iniciou-se um Plano Cicloviário, pasmem, na gestão do Prefeito Fogaça. Dezesseis anos de Frente Popular não produziram um centímetro sequer de ciclovias em Porto Alegre, já que não se pode considerar como tal uma ciclofaixa de dois quilômetros que nunca funcionou. Essa é uma experiência concreta de gestões públicas que não atribuem às propostas ecológicas valor e papel estratégico no desenvolvimento urbano. Tivesse o Plano Cicloviário sido iniciado há vinte anos atrás, agora Porto Alegre certamente conviveria com dezenas de quilômetros de ciclovias. Dirão mais uma vez, como sempre fazem ao tratar o povo como bobo:JÁ farei ciclovias, enquanto proliferam viadutos por todos os lados para satisfação do complexo “das-auto-petrox-etacana-katiarebelo-monsanto-basf-agrogen”.

FARINHA DO TIPO MÉDIO


A recente votação do Código Florestal produziu o seguinte escore: pelo sim ao relatório (13): Anselmo de Jesus (PT-RO).Homero Pereira (PR-MT), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Moacir Micheletto (PMDB-PR), Paulo Piau (PPS-MG), Valdir Colatto (PMDB-SC), Hernandes Amorim (PTB-RO), Marcos Montes (DEM-MG), Moreira Mendes (PPS-RO), Duarte Nogueira (PSDB-SP), Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Reinhold Stephanes (PMDB-PR), Eduardo Seabra (PTB-AP). Quem votou pelo não ao relatório (5): Dr. Rosinha (PT-PR), Ricardo Tripoli (PSDB-SP), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Sarney Filho (PV-MA), Ivan Valente (PSOL-SP). Com estardalhaço a bancada ruralista, tendo como guia supremo um “comunista”, comemorou o evento de aprovação do projeto do relator, na contramão do que o mundo hoje reivindica como necessário para debelar a crise ecológica mundial: preservar a todo custo florestas remanescentes, nascentes, córregos, arroios e rios de todos os tamanhos, biodiversidade associada, retenção de carbono, mitigação das mudanças climáticas em curso, etc, etc... 








governo federal não moveu uma palha para evitar essa tragédia anunciada, pois é do seu interesse manter, em nome da “governabilidade lulística”, sua base aliada coesa para costurar o compromisso em torno da sua candidata. Os ruralistas traçaram uma estratégia muito ardilosa e inteligente, ao tomarem o governo refém do seu projeto de sucessão no poder - eterno, diga-se de passagem. O PT, e os partidos principais da aliança que sustentou Lula durante esses oito anos, souberam, como nunca na história “desse país”, mover-se nos insondáveis meandros de uma matriz de dominação burguesa, de viés arqui-conservador, de caráter desenvolvimentista-depredador, no melhor estilo da obscuridão militar, embora agora travestida de “democrática”, a par do sarrafo que a repressão baixa indiscriminadamente nos movimentos populares. Ao dar um pirulito ao pobre e um patacão de ouro ao rico, produz virtual consenso para agradar a todos, eficiência na manutenção do poder a toda prova, embora não pudesse contar com o serviço extra da jabulani para incrementar o enredo bufo-tropical. Infelizmente, nos últimos lulanos o que assistimos “nesse país” foi vê-lo se transformar na maior plataforma exportadora de commodities do mundo, exportação vil da nossa natureza transformada em carnes, farelos, óleos, energia e tudo mais para movimentar a globomáquina de consumo. Resumo da ópera: JÁ virão medidas emergenciais que mitigarão os estragos porventura produzidos pela legislação recém patrolada. E o planeta, que não para de girar, até quando ainda resistirá ao rapino-capitalismo de resultado eleitoral ? E você, sempre tirado para cúmplice do eco-enredo (dependendo do ponto de vista) imagina que as gangues instaladas no Congresso mudarão as regras eleitorais que as beneficiam? Que farão a tão eterno-propalada reforma política para modificar o financiamento das campanhas eleitorais? Ora, ora, minha cara “eco-vítima-cúmplice”, cachorro com fome jamais larga o osso. Para mudar essa situação só com muita organização popular, indo para a rua e protestando até que “os guardiães do status quo” sejam removidos de seus castelos e das inesgotáveis tetas do Estado que os engordam.

                                                                             FARINHA DO TIPO “FINO”


O “$alutar” de$ejo de Eike em instalar um estaleiro com o qual ele pode amealhar mai$ algun$ bilhões em seu cofrinho, encontrou uma aliada eficiente em sua $anha: nada mais, nada menos, que a atual senadora do Estado de SC. Sua coroada trajetória empresarial que dá inveja ao Tio Patinhas, catapultada por via da traquinagem com capitais virtuais, agita o onipresente banner do “desenvolvimento sustentável”, assim como todos os outros empresários que se prezam “nesse país”. O modesto paper-empresário peca por pequenos “defeitos colaterais”: quer porque quer instalar seu galpão em cima de uma “área degradada”, um dia Mata Atlântica, além de carpir uma big-avenida no leito marinho pela qual transitarão os mega-navios que produzirá sob “encomenda prometida” por parte da “nossa” eco-petroleira, mãe de todas as recentes mega-empreitadas nacionais, sejam pré-salinas, sejam pós-açucaradas. Aqui em SC conseguiu reunir um sem número de devotos e aliados de ocasião, reunidos em torno de um autêntico e fervoroso “movimento popular” em prol do progresso, sinônimo do tal “desenvolvimento sustentável” que o Estado “necessita garantir” para as futuras gerações. O momento não poderia ser mais oportuno para os “garantidores do nosso futuro”: a campanha eleitoral. Aliado$ se degladiam como hienas atrás de migalhas que disputam entre si, tudo em nome dos desempregados, dos “famintos”, dos pobres que terão, finalmente, um futuro pela frente. Acenam 4.000 empregos, embora não digam quantos serão extintos ao longo do eco-processo de desmonte ecológico, além da turma do Fliper que não está gostando nada da brincadeira, pois terá que se mudar (a força) da baía que hoje habita no maior sossego. Sorry, mais um “defeito colateral”, custo do “desenvolvimento sustentável” promovido pelo esquema DILMA-PAC-LULA (seria marca de trator? kkkk). Detalhe: nos idos de 2006 fui solenemente despedido do BESC sem justa causa, embora concursado, e em meio a período no qual o banco incorporava pencas de pessoal - ato de clara perseguição política perpetrado pelo ex-marido da senadora do Estado de SC, quando na cadeira de presidente/banqueiro, e agora sentado em outra cadeira presidencial na Eletrosul, “nossa” virtuosa estatal na produção de energia para que um dia o estaleiro de Eike possa produzir muitos navios. Guindado à função de “coordenador de projetos sociais do BESC” pelo então churrasqueiro do Lula, logo depois apelidado de “aloprado”, o lobby do SINDUSCON acertou com o modo petista de governar, minha exoneração do banco por causa do meu envolvimento no Plano Diretor Participativo de Florianópolis (eleito representante titular distrital pelo Pântano do Sul). Minha atuação social conflitava com os inconfe$$os interesses de um Diretor do banco filiado ao PMDB local, sujeito de fina estirpe lusitana. Em modo “PETEPEMEDEBÊ de governar” ao me demitir removeram dois obstáculos ao mesmo tempo. Recusei-me a assinar pareceres para aprovação de projetos sociais fajutos de interesse da aliança PETEPEMEDEBÊ, função para a qual engajaram uma mocinha submissa. Por outro lado, precisavam prejudicar materialmente um sujeito que ameaçava os intere$$es locais de correligionários do tal diretor do Banco ligados ao meio da construção civil eco-predatória e especulativa que minou todo o processo do PDP na cidade. BINGO !! Fui pro olho da rua, mas não conseguiram aquilo que pretendiam com a “nobreza do seu gesto proto-getulista”: calar-me e consumar o menu de projetos sociais cuja marca d’água era o caixa dois das suas últimas campanhas eleitorais aqui em SC. Para minha redobrada satisfação, logo depois escutei um estridente ruído sobre supostos desvios de dinheiro em um multimilionário projeto social financiando pelo BESC, ELETROSUL, BB e seus parceiros de sempre. Sorte minha estar longe desses bufos personagens sempre tão aflitos em garantir suas cadeiras em órgãos públicos, estatais generosas para com seus familiares e outras coisinhas que até soam como impertinências ekoxatas diante das mazelas que acometem nosso povo.
 A PROPÔ: Vejo que tenho parceiros para propor limites na propriedade da terra. A sua falta é uma das várias razões pelas quais EBs proliferam e as cidades engrossam suas periferias com os pequenos agricultores quebrados. Enquanto isso, o agronegócio e a indústria pesada surfam com nosso dinheiro do BNDES.

A VÍTIMA E O COMUNISTA



A VÍTIMA E O COMUNISTA

O conflito em torno da revisão do Código Florestal Brasileiro levanta discussões paralelas de caráter exótico, no mínimo. Quando um parlamentar de um partido “comunista” (pelo menos no nome), se alia ao que existe de mais retrógrado em matéria de política no Brasil, é preciso levantar as sobrancelhas de espanto. Mas vejamos, nem tanto, pois se nos ativermos ao que praticaram os partidos comunistas clássicos quando no poder, podemos entender o porquê de tamanha afinidade de propósitos dessa corrente ideológica com o serpentário ruralista. Não se trata aqui de distinguir entre modo de produção – capitalista X comunista (espécie extinta com a débâcle da URSS), mas de verificar que tanto um quanto o outro modelo tecno-produtivo, pregam o modelo desenvolvimentista tecnocrático desenfreado e ecologicamente insustentável. O “modo de produção soviético”, com seu sistema de planejamento centralizado da produção, decidia suas metas em torno de uma mesa de obedientes burocratas no Kremlin, tipo de “democracia socialista” que dispensa comentários, pois antítese da almejada democracia e do socialismo. Os legados ambientais, entre outros resultados discutíveis, ao longo dos setenta anos em que vigorou a “ditadura do nomenklatura” constituem o maior menu de desastres ambientais já perpetrados pela humanidade até o presente momento, onde Chernobyl figura apenas com um miúdo símbolo atômico de passado mais recente. Acabaram com o Mar de Aral, com milhões de quilômetros quadrados de terras contaminadas com radiação nuclear e química resultante das provas de armas nucleares e químicas e da hiperdimensionada indústria agroquímica, legado para entertainment das próximas (centenas de) gerações. Na “exuberante” esfera capitalista, sucedeu-se o mesmo, ainda que não com tanta intensidade, pois por essas plagas ocidentais havia vozes que podiam falar e alertar, o que mitigou o impacto de muitos desastres ecológicos. Não é por acaso, portanto, que todo “comunista de carteirinha” (do tipo stalinista, bem entendido) prega o desenvolvimentismo a qualquer custo e só se dobra às questões ecológicas em função de uma oportuna concessão ao inexorável reparo tecno-científico que o sistema proverá logo mais adiante, tese que ele mecanicamente também “atribui” a Marx. Pobre Marx. O tal deputado federal comunista de São Paulo, cujo nome agora figura nas manchetes de toda mídia nacional e internacional, é mais um desses exemplos de quadros políticos produzidos por um setor da velha esquerda anacrônica que ainda resiste a um up-grade ideológico e que vive acoplada ao modelo de desenvolvimento do agronegócio, da centralização, do binômio bandeirante “gado-fogo”, ultrapassado técnica, social, política e ecologicamente. É essa visão comum que cola um “comunista” (de credo pseudo-marxista) a Kátia Abreu, a birrenta barbi sertaneja (de presumível credo pré-capitalista), presidenta da CNA, vociferando contra os pequenos agricultores, a agroecologia, contra tudo o que representa democracia e participação social, contra a compreensão de urgência por alterar o rumo do nosso desenvolvimento antes que a barca afunde de vez. Colocam o “produtor rural” (como se todos fossem fazendeiros de sesmarias) como “vítima da legislação ambiental”, quando em realidade nós (e toda a natureza aviltada) é que somos vítimas de suas históricas práticas antiecológicas. Operam clara inversão dos papéis: o sujeito dribla a lei, passa um tempo, e depois diz que é vítima da lei. Portanto, tem que mudar a lei, e não o comportamento do sujeito infrator. Já não conhecemos esse “jeitinho” tipicamente nacional? Invasões de parques naturais, dos mais diversos tipos de áreas públicas, grilagens, etc, etc... Do cotidiano: O sujeito invade um parque, finca pé por algumas décadas, depois quer que mude o limite do parque, simples assim a “lei de Gerson”. Mas nesse caso, há um pequeno detalhe que faz toda diferença sobre a “pobre vítima invasora de parque”: não se trata de afetar a existência de um km2 de APP, mas de milhões de quilômetros quadrados de florestas nativas, cujas implicações são imensuráveis ao longo do tempo de espaço, dimensão de lesa-pátria, lesa-natureza, lesa-humanidade, lesa-planeta, na contramão do que o mundo de hoje precisa com urgência. Com esse perfil de “esquerda”, o agora famoso deputado toca a melhor sinfonia para a direita. Mas o tempo conta a nosso favor para separar esse joio do trigo. Para consolo diante do escárnio, pelo menos temos uns poucos Ivans Valentes para desmascarar a diabólica aliança entre as “pobre vítimas” e seu aliado - o falso comunista.

O texto abaixo, não poderia ser mais oportuno, pois vêm ao encontro do que acabo de dizer, ressalvadas as precauções necessárias quanto às demais posições políticas e ideológicas do colunista.

 Nossa esquerda direitista

        Nelson Motta – Estadão – 04.06.10

Ainda estou chocado com a pesquisa do Datafolha sobre a ideologia dos brasileiros: 35% dos entrevistados que se disseram petistas, por livre vontade e protegidos pelo anonimato, se declararam de direita. Como? Vamos tentar investigar esta peculiaridade política brasileira.
Sim, as pessoas sabiam o que estavam falando, tanto que 25% responderam que não sabiam ou não queriam responder. As demais estavam seguras de suas opções e se dividiram entre esquerda, direita e centro, inclusive os petistas.
O lulismo não foi oferecido como opção, mas certamente teria muitos eleitores de todos os partidos, e nós, um peronismo tropical.
Zé Dirceu, que diz que tudo que não é de esquerda de direita é, tem um dilema: como culpar a direita por tudo sem ofender tantos companheiros?
Com alguma fantasia e ironia, é possível imaginar que os entrevistados petistas fossem tão politizados que tenham se posicionado ideologicamente ? mas em relação às correntes do partido, umas mais à esquerda e, por consequência, outras mais à direita, como a de Zé Dirceu.
Ou seria uma parte autoritária e impetuosa do PT, que se identifica com os métodos do stalinismo e do fascismo? Se acham de esquerda, mas adotam o comportamento totalitário que atribuem à direita. São aloprados ideológicos.
Outra interpretação, tola, seria que os entrevistados se disseram de direita porque confundiram com direito, como oposto de errado. Ou a teoria de Tim Maia, politizando a clássica frase "No Brasil, prostituta goza, traficante cheira, cafetão tem ciúmes ? E pobre é de direita."
Como dizia Zé Dirceu nos anos 60, "é preciso conscientizar as massas". Deve ser devastador aceitar que 2/3 dos brasileiros não querem saber da esquerda, por mais nobres e generosas que sejam as suas intenções. O pior é que alguns ainda vivem na ilusão de que todo mundo que se opunha à ditadura era de esquerda.
Mas talvez Leonel Brizola possa explicar. Na campanha presidencial de 1994, num comício no Paraná, com 4% das intenções de voto e a três dias da eleição, bradou do palanque: "Não acreditem nas pesquisas. O povo está só despistando?"

 

Devemos melhorar o código, não desfigurá-lo.

A proposta do novo Código Florestal Brasileiro, caso aprovada e posta em prática, representará o pior retrocesso ambiental dos últimos 45 anos da história do País.

Jean Paul Metzger, Thomas Lewinsohn, Carlos Joly e Danilo Boscolo* - O Estado de S.Paulo – 08.06.10

Uma revisão do Código Florestal Brasileiro é desejável, desde que ele se torne mais eficiente para cumprir seu objetivo maior: conservar a integridade dos ecossistemas nativos brasileiros. A revisão deve ser baseada em todo o conhecimento científico relevante e em análises isentas. Não é essa, porém, a base das mudanças propostas.
O principal argumento para alterar o Código Florestal Brasileiro é que, em sua forma atual, ele bloqueia a expansão do agronegócio e coloca na ilegalidade boa parte dos produtores rurais. O que não é verdade. O relatório busca resolver uma suposta escassez de terras agricultáveis no Brasil, flexibilizando as restrições atuais, mas a um custo altíssimo: engendra a ampla legalização do corte de florestas, cerrados e outras vegetações brasileiras, o que provocará a maciça extinção de espécies e um aumento nas emissões de carbono do País. Isso contraria as posições e compromissos ambientais do governo brasileiro quanto à conservação de biodiversidade e redução de emissões.
Pela proposta, delega-se aos Estados a definição das Áreas de Preservação Permanente (APP), além de incorporá-las às Reservas Legais (RL) das propriedades rurais. O envolvimento de esferas decisórias e agentes locais na implementação da legislação em cada Estado ou município é desejável, mas compete ao código federal estipular critérios mínimos para as APP, a serem respeitados em todo o território nacional, para que se reduzam grandes tragédias, como as enchentes e os deslizamentos ocorridos no último verão.
As RL, por sua vez, têm função própria e distinta das APP. Diferentemente de representar uma penalização para o cultivo, tais reservas contribuem substancialmente para os serviços ecossistêmicos, pois aumentam a qualidade, a produtividade e a longevidade das áreas cultivadas e reduzem sua degradação, garantindo, por exemplo, a disponibilidade de agentes polinizadores naturais, os quais podem reduzir os custos de produção de frutas e de grãos.
A liberação nas RL do cultivo de espécies exóticas, como o dendê ou o eucalipto, perverterá sua finalidade e eficiência ambiental. Do mesmo modo, a proposição de permitir a transferência das RL de cada propriedade para áreas remotas abre espaço para intercâmbios de conveniência, expondo regiões extensas à exploração intensiva, sem qualquer proteção ambiental.
O Código Florestal Brasileiro deve, sim, ser atualizado e aperfeiçoado. Sua flexibilização criteriosa, por exemplo, pela redução das RL das pequenas propriedades na Amazônia, é importante para conciliar as demandas da produção agrícola com a preservação, o manejo e a restauração ambientais. A comunidade científica brasileira que melhor conhece essas questões foi pouco consultada e menos ainda ouvida.
Por isso, em vez de representar um instrumento avançado de integração e conciliação, a proposta do novo Código Florestal Brasileiro, caso aprovada e posta em prática, representará o pior retrocesso ambiental dos últimos 45 anos da história do País.


*PESQUISADORES DA USP, UNICAMP E UNIFESP, ESPECIALISTAS EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE