terça-feira, 13 de setembro de 2011

S O F T W A R E A B E R T O



      S O F T W A R E    A B E R T O


AÇÃO - EXEC

QUANTO CUSTA

QUANTO GANHA
Juntar os parceiros para registrar a firma, ENTER
Mixaria – trago barato - cachaça

Registrar a firma na Junta Comercial, ENTER
Mixaria – papelada básica

Contratar advogado criminal e contador em “regime de risco”, ENTER
Mixaria – papelada básica

Procurar “padinho parlamentar” oferecendo aporte na próxima campanha, ENTER
Mixaria – bares ou restaurantes

Procurar Secretários Municipais, Estaduais e Ministros oferecendo aporte para a próxima campanha deles, ENTER
Mixaria – bares ou restaurantes

Concorrer em licitação milionária com preço bem abaixo do mercado, ENTER
Mixaria – papelada básica

Subcontratar empresas para somente dar início à obra ou serviços, ENTER
10% do valor inicial – em cheques pré-datados

Fazer aditivo ao contrato para atualização de preços e ajustes na obra ou serviços, contando com o apoio dos parlamentares e secretários envolvidos, ENTER
Mixaria – papelada, propinas,presentes, promessa de apoio futuro à campanha
200% de acréscimo em cima do valor inicial do contrato
Fazer seu advogado falar com um desembargador “amigo” prevenindo eventuais problemas judiciais, ENTER
Mixaria – restaurante chique

Declarar falência da sua empresa deixando a obra ou serviços inconclusos, ENTER
Mixaria – papelada e dispensa dos empregados

Depositar a grana recebida do inicial e do aditivo em vários paraísos fiscais, ENTER
Mixaria – eventual turismo ao exterior

Pagar os sócios e parlamentares, ENTER
Até o teto de 50% do valor inicial do contrato

Enviar presentes ao juiz e desembargador, ENTER
Mixaria – cruzeiro marítimo ou obra de arte

Repatriar o dinheiro passando por várias contas e Caixas 2 de parlamentares com promessa de futuro apoio para suas campanhas eleitorais, ENTER
Mixaria – papelada, propinas para fiscais da receita, restaurantes e custos bancários

Investir “legalmente” em imóvel ou participação acionária na estatal que apresentar os maiores ganhos na bolsa – Petrobrás ou BB, ENTER
Tudo o que sobrou da empreitada
Dividendos fartos até o fim da vida
Candidatar-se na próxima eleição para parlamentar no Congresso, deputado ou senador, ENTER
Coletar dinheiro de outros empresários, agora para o seu Caixa 2
Prestígio, influência, poder e conexões
Eleger-se deputado federal ou senador, mesmo que suplente, ENTER
Caixa 2, sem qualquer custo para você
Impunidade garantida
Reeleger-se indefinidamente, mesmo que suplente, ENTER
Caixa 2, sem qualquer custo para você
Fica milionário garantido
Morrer rodeado de correligionários, ex-sócios, credores e beneficiários, ESC
Mixaria – enterro digno de príncipe
Nome de avenida na cidade


quarta-feira, 1 de junho de 2011


 

Gert Schinke – junho de 2011

UM SONHO PSICOGRAFADO

Atentos à necessidade de atualizar o Código Florestal Brasileiro, altos dirigentes dos partidos de esquerda iniciaram um profícuo debate assim que Lula sentou na cadeira de presidente. Depois de dezenas de debates em todo Brasil, ouvidos todos os setores envolvidos, parlamentares da famosa “Frente Popular Em Defesa Da Natureza do Brasil” produziram um relatório quase irretocável, introduzindo inúmeras melhorias que se fizeram necessárias ao velho texto de 1965, gerado em plena ditadura militar. Todas, porém, mais restritivas no que dizia respeito à defesa da natureza e, ao mesmo tempo, garantindo enormes avanços ao homem do campo, especialmente para a agricultura familiar. Todo esse fervoroso empenho que envolveu quase todos os partidos, mas especialmente os partidos do campo de esquerda capitaneados pelo PT que elegeu o presidente operário, trouxeram uma enorme esperança à sociedade brasileira e internacional, pois finalmente algo de positivo acontecia em meio ao tenebroso cenário de constante devastação das florestas, mangues, cerrados e tudo mais ao alcance das implacáveis moto-serras, tratores com os correntões e o fogo de costume.

Lula, que já havia dado umas trinta voltas ao mundo ao longo do primeiro mandato com o Aerolula, com o que viu lá fora parecia convicto de que o país deveria preservar suas maiores qualidades e riquezas para seu próprio povo, e falava exaltado com o dedo em riste e verve povão na defesa dos bichos de todos tipos, lagartixas, sapinhos, especialmente os bagres que dizia amar, granjeando a simpatia da meninada. Começou seu segundo mandato marcando-o claramente como “verde” em tudo. Acabou com a impunidade no campo e das quadrilhas de bandidos e corruptos nas cidades reformando o Código de Processo Penal; criou centenas de novas Unidades de Conservação Federais por todo país e implantou o SNUC de fato e de direito; fez a sonhada reforma agrária dando total assistência aos assentamentos com agroecologia de primeira; fez uma vasta reforma política que, entre outras coisas, acabou com o financiamento privado de campanhas eleitorais; acabou com o programa nuclear brasileiro e começou a desmontar Angra I e II. Na esfera internacional não deixou por menos: brigou por um acordo mundial para diminuir o aquecimento global e salvar as florestas, entre outras eco-bandeiras importantes, o que lhe deu ainda mais prestígio e fama como mandatário. No meio do caminho sobrou para a dupla “SS”: O Sarney parou no Amapá em prisão domiciliar e o Suplicy virou Presidente do Congresso Nacional. E o melhor de tudo parecia ser o desempenho da economia: o país crescia com fértil avanço no IDH, muita comida orgânica na barriga do povo, energia sobrando até para vender a toda América Latina, inclusive abrindo mão da construção de Belo Monte e de outras grandes hidrelétricas na Amazônia.

O relatório final do anteprojeto vinha assinado por um antigo militante de esquerda que acumulava uma longa história na defesa das transformações sociais, lutou contra a ditadura militar e esmerou-se em defender, ao longo do processo de discussão, uma visão ecológica afinada como a que a sociedade e o mundo todo clamavam. Quando, finalmente, o projeto entrou em votação no Congresso, o país respirava o ar da vitória do bom senso, de uma virtual harmonização da grande economia com a mãe-natureza, de uma proposta que pela primeira vez, depois de décadas de desenvolvimentismo eco-rapinador colonial e entreguista, conseguiria colocar o Brasil no rumo de outro modelo de desenvolvimento, aquele pelo qual tanto se batiam as forças de esquerda no país depois da era do “progresso a todo custo” da ditadura – do Brasil do “ame ou deixe-o”. O texto marcava uma clara mudança de atitude de governo, agora voltado para oferecer um futuro melhor para as futuras gerações.

No dia da votação, o Brasil parou para acompanhar em Brasília o que seria uma acachapante vitória das esquerdas sobre o, até então, trator dos grandes grupos econômicos do agronegócio abraçado com a grande indústria química multinacional, de equipamentos pesados, do transporte rodoviário, do petróleo, das máfias das commodities, dos atacadistas de alimentos. As galerias da Câmara dos Deputados se encheram de gente de todo país, exalando alegria por todos os lados, gritando cadenciadas palavras de ordem em torno da defesa da natureza, vestidos de tudo o que é tipo de cores, um arco-íris que juntava desde índios até pequenos agricultores familiares, ambientalistas de todos os matizes, intelectuais, artistas e lutadores sociais que se solidarizavam com a proposta que faria o país enveredar na “eco-modernidade” tão sonhada com a chegada do século XXI. Já na antevéspera da votação, as praças estavam cheias de gente ostentando bandeiras multicoloridas, mas com claro predomínio de tons vermelhos e amarelos característica cenográfica das grandes manifestações populares que levaram Lula e o PT ao poder. No dia da decisão o país parou para acompanhar tudo no melhor estilo “Brasil em final de copa do mundo”.

O PT, partido do presidente e dono da maior bancada no Congresso, havia se empenhado fervorosamente há meses para aglutinar a base aliada e produzir, junto com o PV, PCdoB, a banda progressista do PMDB, PSB, PSOL e outros partidos pequenos, uma articulação política imbatível para que a votação garantisse uma vitória tranqüila sobre a contraproposta ruralista capitaneada pelas forças de direita, tendo à frente o DEM, PSDB, PP, a banda podre do PMDB, partidos de aluguel, bloco sob a condução da reacionária CNA e outras entidades ligadas ao agronegócio exportador. Uma das figuras que se destacou na articulação política no Congresso foi o Ministro da Casa Civil, Palocci, que, embora tardiamente convertido para as causas ecológicas do seu eco-guru Lula, bateu o punho na mesa e nada cedeu à chantagem dos partidos da base aliada sobre o governo na adjeta barganha por cargos na esplanada e companhias estatais Brasil afora. “Acabou a mamadeira”, dizia. Em Campinas já era aclamado como herói e ganhava até nome de praça em vida. Surgia o “eco-palocismo”.

Apurada a votação do projeto de lei, fez-se o resultado já esperado sob a égide de um governo de esquerda, transformador, de caráter progressista, e identificado com o clamor do povo mobilizado na rua em torno dos avanços populares para construir um país melhor para as futuras gerações. O presidente da Câmara, ex-sindicalista, anunciou eufórico o resultado com voz embargada: 351 votos a favor da proposta do Código Florestal ecológico, 117 votos contrários da direita ruralista, e alguns poucos em branco. Deu 3 pra 1: três para a natureza, um para o negócio da moto-serra e do trator. O plenário veio abaixo e as galerias ovacionaram os parlamentares em meio a palavras de ordem, abraços e choros sinceros. Nunca se viu, passados muitos anos “nesse país”, como costumava dizer o presidente que a tudo assistia atentamente pela televisão no Alvorada, tanta comemoração quanto naquela noite. Era a pura expressão da felicidade geral tão almejada por uma geração que por várias décadas lutou contra a ditadura, contra o atraso cultural e político, a escravidão no campo e na cidade, a exploração do povo trabalhador, o preconceito, o cerceamento à liberdade de expressão, o cenário da terra arrasada por todo lado. Lá estava eu também com o lenço junto aos olhos tentando registrar na memória aqueles mágicos momentos. Inesquecíveis momentos.

PRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRIIIIIIIIIMMMM....

Quando acordei, recobrando a consciência, deparei-me com o PESADELO da vida real.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

MAIS ATUAL IMPOSSÍVEL...


Depois da Lei de Gerson, agora temos a Emenda do Sarney - Sanctum Sacrificium !


E nesta manhã chuvosa, durante o programa da CBN, o tal Marcos Soares, promotor do evento da Skol, soltou a frase que ilustra maravilhosamente bem a dita emenda: " Esses gatos pingados que não querem o show do Ben Harper no Campeche, estão pensando só em seu próprio umbigo. Nós, da Skol, é que estamos pensando no bem da população de Florianópolis" ( ??!!!!)


Leia a Abobrinha Ekoxata 01-11 e entenda que é a Emenda do Sarney!!!!

‘S A C R I F Í C I O’ é meu ofício.




Foi a palavra abusada, de tão usada, pelo nobre Senador José Sarney, ao discursar na tribuna do Senado quando de sua posse como presidente daquela ilibada casa legislativa. Pela quarta vez, feito único, que com meros 55 anos de casa, superou Rui Barbosa. Pode?

Como muito(a)s já sabem, ou desconfiam, eu defendo de longa data a simples extinção do Senado Federal, na perspectiva de um Congresso Unicameral, por diversos motivos. Fiz coro com nosso Plínio (este sim, sacrificou-se na função de candidato presidencial do PSOL) nas eleições do ano passado, quando fui candidato à Deputado Federal pelo PSOL-SC, e tive a nítida sensação de que só a polêmica que a proposta gerou já lhe garantiu o mérito de informar e politizar um pouco o(a)s brasileiro(a)s sobre o que considero um verdadeiro “rebotalho da monarquia”, excrescência institucional num Brasil de hoje clama por acabar com as mordomias e penduricalhos legislativos, assim como em todas as esferas do Estado, ente colonizado por gangues e despachantes de empresas.

O Senado é o “colchão de molas” institucional perfeito para arrefecer as demandas que provindas da Câmara, se apresentam intoleráveis ao poder da elite dominante brasileira e consolida na opinião pública a visão de que existe efetiva democracia no país. De fato, o que existe é um circo de faz de conta democrático, com representações deformadas e todo tipo de anomalias que, ao longo de décadas, se consolidaram na “inevitabilidade” dos fatos consumados, para não dizer “direitos adquiridos”. Eleger-se Deputado ou Senador no Brasil é ganhar na loteria, é mudar de vida rumo ao enriquecimento rápido.
“O senador José Sarney (PMDB-AP) foi reeleito ontem com apoio de 70 dos 81 integrantes da Casa para sua quarta gestão na presidência do Senado. No discurso de posse, repetiu que marcha mais uma vez para o "sacrifício pessoal". Sarney venceu o único adversário na disputa, Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), escolhido por oito parlamentares. Um senador optou por anular o voto e dois votaram em branco.” Jornal O Estado de São Paulo, 02.02.11 (vive sob censura há 550 dias)
Como o PSOL não tem uma posição oficial sobre a questão do bicameralismo ou unicameralismo do legislativo federal, é próprio do funcionamento de um partido democrático, haver defesa de propostas que nem sempre estão na ordem do dia, para que chegue o momento em que seja decidido sobre o assunto. E este, creio eu, chegará, mais cedo ou mais tarde. O que eu gostaria de ver com o mandato de um Senador psolista é um ferrenho e obstinado combate às patifarias reiteradamente denunciadas nos últimos anos no Senado, algumas das quais, senão em sua totalidade, são usufruídas pelos próprios Senadores que às denunciam, sob o argumento de que “há regras e, portanto, temos que cumpri-las”. Assim, dúzias de cargos de confiança, jatinho pra cá, jatinho pra lá, décimo quarto, décimo quinto, e assim por diante. Fosse eu algum dia, por circunstâncias inusitadas e imprevistas, um Senador, no primeiro dia do mandato proporia a revogação de TODOS os penduricalhos, leia-se mordomias, que hoje existem para consumar um circo que custa R$4bi por ano ao país. De sobremesa, uma PEC (proposta de emenda constitucional) para acabar de vez com o Senado. E, por coerência, lutaria para vê-la aprovada, embora sabedor que isto seria muito difícil. Você paga tudo isso achando que seis mil pessoas (sim, 6 mil) estão “trabalhando” para consolidar a democracia e legislando coisas “tão exclusivas” que ninguém mais, além deles, poderia legislar sobre elas. Aponte alguma coisa que o Senado faz que a Câmara dos Deputados não possa fazer ?????
Sábio conselho de um sábio petista.
Certo dia, quando estava exercendo meu mandato de vereador em Porto Alegre, um importante dirigente petista me “informou” que “política não é profissão” (para meu espanto, kkk..) e que eu deveria pensar “em algo” depois de findo o meu mandato, tão passageiro e fugaz. Isso me calhou fundo e sempre me lembro desse paternal “conselho” ao constatar que eu terminei meu mandato, segui por vários caminhos profissionais na iniciativa privada desde então, e o sábio e ilibado petista que me sugeriu esta afável “máxima” permanece até hoje como profissional da política mamando em algum escaninho estatal gaúcho. Faça o que eu digo, mas não faça o que faço. Seria o caso do laureado Sarney? Não, certamente, não seria. Ele dirá: Faça o que eu digo e faça como eu faço, aí você logo chega lá. E prova isso anunciando mais um “sacrifício pessoal” em sua vida, nada diferente de como pensam e agem tantos outros milhares de “políticos profissionais”, sem os quais, afinal, o Brasil poderia vir a ser, quem sabe, um enorme país de merda.
O sacrifício do Sarney é um deboche, um tapa na cara de todas as pessoas que voluntariamente militam em torno das boas causas sociais, que doam suas vidas (as incontáveis horas de sacrifício) na organização, na feitura das ações, dos eventos, nas discussões....miríade de tantas coisas aqui impossíveis de ser retratadas na sua totalidade e multiplicidade. Como comparar o meu sacrifício com o sacrifício do Sarney, ao constatar que milito em causas eco-sociais há 37 anos, meros 37 anos, sempre de forma voluntária, exceção feita ao lapso de quatro aninhos do mandato de vereador em Porto Alegre ????
O que dirá você? Na próxima eleição valorize mais o seu próprio sacrifício em prol das causas pelas quais você milita e o compare àqueles que apregoam um sacrifício qualquer como sendo uma espécie de “ônus da política profissional”. Recomendação de um humilde militante psolista. “Nesse país”, parece que fazer “política” não é coisa para amadores, é coisa para “profissionais”. Eu, “amador”, faço POLÍTICA.
Eco-amplexos convexos, alemão Gert
“In periculum mora”:
TAMBÉM QUERO PASSAPORTE DIPLOMÁTICO JÁ PRA NÃO FICAR EM FILA DE AEROPORTO !!!
In “fumus boni juris”:
QUERO PENSÃO VITALÍCIA JÁ PRA MIM, MEUS PARENTES DE PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO GRAUS, TODAS “EX” E AS ATUAIS TAMBÉM, EMPREGADO(A)S, MOTORISTAS, NORAS, GENROS... E O CACHORRO !!!

sábado, 29 de janeiro de 2011

ECO-POLÍTICA DA PESADA




Alerta que vem da lama
Biogeógrafo americano Jared Diamond afirma que estamos sob risco de suicídio ecológico, mas há saída

Ivan Marsiglia e Carolina Rossetti - O Estado de S.Paulo – 22.01.11

Rubbish! É a resposta - em bom inglês - do biogeógrafo americano Jared Diamond para a pergunta sacada com frequência pelos "céticos do clima" no afã de congelar o debate ambiental: o aumento da temperatura do planeta, ao qual se atribui a intensificação dos ciclos de calor e frio testemunhada hoje por toda a parte, pode ser o resultado de um ciclo natural da Terra? Rubbish - lixo, besteira. "A ideia de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje são naturais é tão ridícula quanto a que nega a evolução das espécies", fustiga o autor de Colapso (Record, 2005), um tratado multidisciplinar de 685 páginas na edição brasileira que analisa as razões pelas quais grandes civilizações do passado entraram em crise e virtualmente desapareceram. E a questão assustadora que emerge de seu olhar sobre as ruínas maias, as estátuas desoladoras da Ilha de Páscoa ou os templos abandonados de Angkor Wat, no Camboja, é: será que o mesmo pode acontecer conosco?
A resposta de Diamond, infelizmente, é sim. Ganhador do Prêmio Pulitzer por sua obra anterior, Armas, Germes e Aço (Record, 1997), em que focaliza as guerras, epidemias e conflitos que dizimaram sociedades nativas das Américas, Austrália e África, o cientista americano há anos nos adverte sobre os cinco pontos que determinaram a extinção de civilizações inteiras. O primeiro, é a destruição de recursos naturais. O segundo, mudanças bruscas no clima. O terceiro, a relação com civilizações vizinhas amigas. O quarto, contatos com civilizações vizinhas hostis. E, o quinto, fatores políticos, econômicos e culturais que impedem as sociedades de resolver seus problemas ambientais. Salta aos olhos em sua obra, portanto, a centralidade que tem a ecologia na sobrevivência dos povos.
Foi na semana subsequente à pior catástrofe natural da história do País, na região serrana do Rio de Janeiro - a mesma em que um arrepiante tornado surgiu nos céus de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense -, que Jared Diamond falou por telefone ao Aliás. Às vésperas do lançamento no Brasil de um de seus primeiros livros, O Terceiro Chimpanzé (1992), o professor de fisiologia e geografia da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, fala das providências cruciais que o ser humano deverá tomar nos próximos anos para garantir sua existência futura. Diz que as elites políticas, seja nos EUA, na Europa, nos países pobres e nos emergentes, tendem a tomar decisões pautadas pelo retorno em curto prazo - até um ponto em que pode não haver mais retorno. Avalia que o Brasil dos combustíveis verdes tem sido "uma inspiração para o mundo", mas também um "mau exemplo" na preservação de suas florestas tropicais. E fala da corrida travada hoje, cabeça a cabeça, entre "o cavalo das boas políticas e aquele das más", que vai determinar o colapso ou a redenção das nossas próximas gerações.
O Brasil enfrentou tempestades de verão que mataram mais de 700 pessoas. Debarati Guha-Sapir, do Centro de Pesquisas sobre a Epidemiologia de Desastres da ONU, disse que o tamanho da tragédia é indesculpável, pois o País tem apenas um desastre natural para gerenciar. Como evitá-lo no futuro?
Precisamos estar preparados para um número cada vez maior de tragédias humanas relacionadas a mudanças climáticas. O clima se tornará mais variável. O úmido será mais úmido e o seco, mais seco. A Austrália, por exemplo, acaba de sair da maior seca de sua história recente e agora enfrenta o período mais úmido já registrado no país. Em Los Angeles, onde moro, recentemente tivemos o dia mais quente da história e, há algum tempo, o ano mais chuvoso e também o mais seco que a cidade já viu.
Em seus escritos, o sr. aponta a Austrália como um país com estilo de vida antagônico às suas condições naturais. Mas, em comparação com o Brasil, os australianos se saíram melhor: enfrentaram a pior enchente em 35 anos, mas contabilizaram apenas 30 mortos. Como explicar isso?

É verdade que o modo de vida dos australianos não está em harmonia com suas condições naturais. Mas o estilo de vida dos americanos e dos brasileiros tampouco. O modo de vida do mundo não está em harmonia com as condições naturais deste próprio mundo. No caso da Austrália, o país fica no continente que tem o meio ambiente mais frágil, o clima mais variável e o solo menos produtivo. Mas a Austrália é um país rico e dispõe de mais dinheiro que o Brasil para criar uma infraestrutura que gerencie tais problemas. Em Los Angeles, onde as enchentes são recorrentes, não resta um rio em seu leito natural: todos receberam canais de concreto para reduzir o risco de enchentes. A minha casa fica literalmente em cima de um córrego coberto por uma estrutura de concreto. Nos 34 anos em que vivi nessa casa, apenas duas vezes a água invadiu o porão.
Em Colapso, o sr. lista cinco razões que explicam o declínio das sociedades. Elas continuam as mesmas?
Sim. Os cinco fatores que levo em consideração ao tentar entender por que uma sociedade é mais ou menos propícia a entrar em colapso são, em primeiro lugar, o impacto do homem sobre o meio ambiente. Ou seja, pessoas precisam de recursos naturais para sobreviver, como peixe, madeira, água, e podem, mesmo que não intencionalmente, manejá-los erradamente. O resultado pode ser um suicídio ecológico. O segundo fator que levo em conta é a mudança no clima local. Atualmente, essa mudança é global, e resultado principalmente da queima de combustíveis fósseis. O terceiro fator são os inimigos que podem enfraquecer ou conquistar um país. O quarto são as aliados. A maioria dos países hoje depende de parceiros comerciais para a importação de recursos essenciais. Quando nossos aliados enfrentam problemas e não são mais capazes de fornecer recursos, isso nos enfraquece. Em 1973, a crise do petróleo afetou a economia americana, que dependia da importação do Oriente Médio de metade dos combustíveis que consumia. O último fator recai sobre a capacidade das instituições políticas e econômicas de perceber quando o país está passando por problemas, entender suas causas e criar meios para resolvê-los.
O colapso da sociedade como hoje a conhecemos é evitável ou apenas prorrogável?

É completamente evitável. Se ocorrer, será porque nós, humanos, o causamos. Não há segredo sobre quais são os problemas: a queima exagerada de combustíveis fósseis, a superexploração dos pesqueiros no mundo, a destruição das florestas, a exploração demasiada das reservas de água e o despejo de produtos tóxicos. Sabemos como proceder para resolver essas coisas. O que falta é vontade política.
O Brasil tem feito sua parte?
Nunca estive no Brasil, portanto não posso falar a partir de uma experiência de primeira mão. Mas pelo que entendo, vocês adotaram uma solução imaginativa para a questão energética, com a produção de etanol. O Brasil é uma inspiração para o resto do mundo em relação aos carros flex. Por outro lado, mesmo que o País esteja consciente dos riscos de se desmatar a maior floresta tropical do mundo, muito ainda precisa ser feito. A Amazônia é muito importante para os brasileiros, pois ela regula o clima do país. Se a destruírem, o Brasil inteiro sofrerá com as secas.
De que maneira as elites tomadoras de decisão podem encabeçar a solução dos problemas ou ser responsáveis por conduzir sociedades à autodestruição?

Uma elite que foi competente em solucionar problemas é a composta por políticos dos Países Baixos, que têm grandes dificuldades com o manejo de água, já que um terço da área desses países está abaixo do nível do mar. A Holanda investiu uma quantidade enorme de dinheiro no controle de enchentes. Uma coisa que motivou os políticos holandeses é que muitos deles vivem em casas que estão sob o nível do mar. Eles sabem que se não resolverem a coisa vão se afogar com os demais. Outra elite razoavelmente bem-sucedida é a realeza do Butão, nos Himalaias. O rei butanês disse ao seu povo que o país precisa se tornar uma democracia quer queira, quer não. Ele também anunciou que a meta do país não é aumentar o PIB, mas elevar o índice que mede a felicidade nacional. Isso é verdadeiramente uma meta maravilhosa. Nos EUA, temos políticos poderosos com uma visão curta e destrutiva. Acho que contamos com um bom presidente, mas temos uma oposição cujos objetivos no presente momento se resumem a ganhar a próxima eleição presidencial e, repetidamente, tem negado a existência da mudança climática e do aquecimento global.
De que forma o declínio de sociedades antigas pode nos servir de lição?

Algumas sociedades do passado cometeram erros decisivos, outras agiram com sabedoria e tiveram longos períodos de estabilidade. Um vizinho de vocês, o Paraguai, é um exemplo de país que cometeu um erro crucial, há 120 anos: lutar simultaneamente contra Brasil, Argentina e Uruguai. Isso resultou na morte de 80% dos homens e um terço da população. Tomando como exemplo o Paraguai, precisamos aprender a adotar metas realistas. Podemos aprender também com os países que manejam bem seus recursos, como a Suécia e a Noruega, ou tomar como mau exemplo a Somália - que desmatou suas florestas e hoje sofre com a seca. Em defesa da Somália, podemos argumentar que o país não conta com um grande número de ecologistas capacitados, ao contrário de Brasil e EUA.
O sr. estudou a ascensão e queda de sociedades no passado, mas o que se discute agora é o futuro da própria humanidade. Sua teoria é capaz de explicar os desafios do mundo globalizado?

Sim. É verdade que esta é a primeira vez na história que enfrentamos o risco de o mundo inteiro entrar em colapso. No passado, o colapso do Paraguai, por exemplo, não teve nenhum efeito na economia da Índia ou da Indonésia. Hoje, até mesmo quando um país remoto, como a Somália ou o Afeganistão, entra em colapso isso repercute ao redor do mundo. Mas, por analogia, é possível tirar conclusões semelhantes.
O geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001) enfatizou aspectos socioculturais para explicar os dilemas da sociedade, enquanto seu trabalho é considerado por alguns como geodeterminista. Aspectos culturais não teriam mais influência sobre o futuro das sociedades que os naturais?

Com frequência as pessoas me perguntam se isso ou aquilo é mais importante para explicar o declínio das sociedades. Questões como essas são ruins. É o mesmo, por exemplo, que perguntar sobre as causas que levaram ao fracasso de um casamento. O que é mais importante para manter um casamento feliz? Concordar sobre sexo ou dinheiro, ou crianças, ou religião, ou sogros? Para se ter um casamento feliz é preciso estar de acordo a respeito de sexo e crianças e dinheiro e religião e sogros. O mesmo se dá no entendimento do colapso de sociedades. Fatores culturais são importantes, mas diferenças ambientais não podem ser ignoradas. Por exemplo, as regiões Sul e o Sudeste do Brasil são mais ricas que a Norte. Isso é por causa do meio ambiente, não porque as pessoas no norte sejam burras e as do sul mais inteligentes ou cultas. A explicação é que o norte do país é mais tropical e áreas tropicais tendem a ser mais pobres porque têm menos solos férteis e mais doenças. O mesmo é verdade nos EUA, onde até 50 anos atrás o sul foi sempre mais pobre que o norte. Ao redor do mundo, esse padrão é repetido: países tropicais tendem a ser mais pobres que os de zonas temperadas.
Que sociedades estão em colapso hoje?
Todas as sociedades do mundo estão em risco de colapso. Se a economia mundial colapsar isso afetará todos os países. Nós vimos o que houve dois anos atrás, quando o mercado financeiro americano quebrou, afetando todas as bolsas do mundo. Então, embora todos os países estejam em risco de colapso, alguns estão mais próximos dele do que outros - por uma maior fragilidade ambiental, porque são menos maduros política ou ecologicamente ou por qualquer outro motivo. Por exemplo, o Haiti, que retornou agora às manchetes com a volta do ditador Baby Doc, viu seu governo virtualmente colapsar e continua em grande dificuldade. O México enfrenta dificuldades gravíssimas relacionadas a problemas ecológicos, com a aridez de suas terras, e políticos, com a onda de assassinatos ligada ao tráfico de drogas. Paquistão é um exemplo óbvio, Argélia, Tunísia, que também estão no noticiário... Do outro lado, dos países com menos risco de colapso estão a Nova Zelândia, o Butão e, na América Latina, a Costa Rica. Chile também vai bem. E o Brasil tem melhores perspectivas que vizinhos como a Bolívia, claro.
Países podem se recuperar do colapso?
O colapso normalmente não é definitivo. Houve colapsos no passado que foram sucedidos por retomadas. O Império Romano caiu e, apesar disso, a Itália é hoje um país de Primeiro Mundo.
A Europa, onde o debate a as leis de proteção ambiental mais avançaram, também entrou em crise. Quando isso ocorre, há risco de retrocesso nas políticas ambientais?

É possível. Muita gente sustenta que, quando a economia está fraca, não se consegue investir como se deve no meio ambiente. O colapso econômico de fato põe em risco os avanços em sustentabilidade. Só que os problemas ambientais só são fáceis de resolver nos estágios iniciais. Nesse ponto custam menos, mas se aguardamos 20 ou 30 anos, eles se tornarão muito caros ou impossíveis de solucionar.
Nos EUA, quando o presidente Obama condicionou empréstimos às montadoras americanas ao investimento em carros mais baratos e menos poluentes, a crise não ajudou?

Tanto as crises econômicas podem ter bons efeitos para a política ambiental como fazê-la retroceder. Nos EUA, antes do crash financeiro, estava muito em moda o Hummer, um jipe de 3 toneladas, versão civil de um veículo militar utilizado no Iraque. Era caríssimo e gastava horrores em combustível. Aparentemente, suas vendas despencaram e isso é um efeito positivo da crise econômica. Ainda assim, há americanos ignorantes que ainda insistem em dizer que, uma vez que estamos em crise, podemos deixar a agenda ecológica de lado.
Há modelos econômicos melhores e piores no que diz respeito aos danos ecológicos?
No momento em que falamos, tenho que dizer que o modelo econômico americano não parece ser o mais adequado. Por outro lado, somos uma democracia, com maus políticos, mas também bons - que denunciam os problemas que põem em risco o futuro. Numa ditadura comunista, por exemplo, isso seria impossível. Gosto do sistema capitalista porque ele pressupõe competição, inclusive de ideias. Mas aprecio também o papel do Estado em interferir no capitalismo, evitando os monopólios e enfrentando grupos cujos interesses vão de encontro aos da maioria da população. Em comparação, eu diria que o modelo europeu de capitalismo, mais socializado e comprometido com o bem comum, é atualmente a alternativa menos ruim.
Alguns cientistas afirmam que não se pode dizer ao certo que o aquecimento global seja culpa da ação do homem; pode ser parte de um ciclo natural da Terra.
Sabe a palavra inglesa rubbish? Significa lixo, mas é usada em linguagem coloquial em referência a ideias ridículas. O argumento de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje sejam apenas naturais é simplesmente ridículo. Tanto como aquele que nega a evolução das espécies. As evidências de que tais mudanças se devem a causas humanas são irrefutáveis. Os anos mais quentes registrados em centenas de anos se concentram nos últimos cinco que passaram. O planeta já enfrentou flutuações de temperatura no passado, mas nunca nos padrões registrados hoje. Não conheço um único cientista respeitável que afirme que as atuais mudanças de clima não se devam à ação humana. É por isso que eu digo: rubbish.
Seis anos depois do lançamento de Colapso, o sr. está mais otimista ou pessimista em relação ao futuro de nossa civilização?
Diria que me mantenho mais ou menos no mesmo nível. Tenho visto coisas ruins piorarem e boas tornarem-se melhores. O que mais me preocupa é que continuamos vendo um aumento vertiginoso do consumo no mundo, seja nos EUA, na China, na Índia ou no Brasil. O que me anima é que cada vez mais pessoas reconhecem a gravidade da situação e estão tomando iniciativas. Uma metáfora que gosto de usar é a da corrida de cavalos. Há dois deles correndo agora, o cavalo da destruição e o cavalo das boas políticas. Nestes últimos seis anos, eu diria que os dois têm corrido cada vez mais rápido, disputando cabeça a cabeça. Não sei qual vencerá a corrida, mas diria que as chances do cavalo do bem vencer são de 51%, enquanto o das más políticas tem 49%. E, se nossa destruição não é certa, nem um destino inescapável, é preciso saber que se não tomarmos medidas urgentes vamos ter grandes problemas.
A indústria do entretenimento mostra, cada vez mais, imagens do fim do mundo, prédios em ruínas, cidades abandonadas. Por que somos tão fascinados por nossa destruição?
Parte disso se deve à força romântica das imagens de civilizações passadas que entraram em colapso, como as ruínas dos maias, incas e astecas. Ou os escombros das guerras no Iraque e no Irã. E pensamos: quem construiu aqueles templos e monumentos, tinha uma cultura e arte admiráveis, podia imaginar que isso aconteceria? Por que essas civilizações entraram em colapso, sem poder evitar? E nos angustiamos: será que isso também vai acontecer conosco?