FARINHA DO TIPO GROSSO

Subi na chaminé do Gasômetro (de 124m de altura) em uma ação/protesto que ficou conhecida como a “tomada da chaminé”, em 17.08.1988, contra um mega-projeto urbanístico que Colares, arquiinimigo do movimento ecológico, queria edificar ao longo da orla do Guaíba. Graças aos sucessivos protestos que desencadeamos na cidade, foi possível eleger a primeira gestão da Frente Popular e derrotar Colares em acirradíssima e histórica disputa entre a “nova esquerda emergente” e o “arcaico trabalhismo”. Nos anos que se sucederam, foi graças a minha presença e de outros colegas simpáticos às propostas ecológicas na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, e contando com a pressão do movimento ecológico e popular, que conseguimos preservar e consolidar os Parques Marinha do Brasil e Maurício Sirotsky Sobrinho, embora estes sempre estivessem sob constante ameaça por parte da especulação imobiliária e da miopia desenvolvimentista que graça “nesse país”. Não me espanta agora ver os dois reunidos e festejando sua candidata comum, pois ambos, além da candidata, têm muito mais em comum do que nossa vã imaginação alcança, embora em anos passados faziam um criativo esforço para se diferenciar. Comungam o mesmo projeto de

desenvolvimento para o país e sua retórica é mero artifício para produzir virtual diferenciação política. Resumo da ópera; farinha do mesmo saco, sob o olhar ecológico, certamente. Tantos bi aqui, tantos bi ali, e lá vamos nós em inexorável jornada rumo ao nirvana do concreto armado. Detalhe: em 1990 não agüentei mais o “jeitinho petista de governar” e sai do partido honrando as propostas ecológicas que me elegeram vereador portoalegrense, entre as quais, as ciclovias. As bandeiras que defendia tinham mais valor para mim do que uma hipotética “carreira política”. Embora eu consegui aprovar um “Plano Cicloviário para Porto Alegre”, somente depois de passadas quatro gestões de Frente Popular (leia-se PT) iniciou-se um Plano Cicloviário, pasmem, na gestão do Prefeito Fogaça. Dezesseis anos de Frente Popular não produziram um centímetro sequer de ciclovias em Porto Alegre, já que não se pode considerar como tal uma ciclofaixa de dois quilômetros que nunca funcionou. Essa é uma experiência concreta de gestões públicas que não atribuem às propostas ecológicas valor e papel estratégico no desenvolvimento urbano. Tivesse o Plano Cicloviário sido iniciado há vinte anos atrás, agora Porto Alegre certamente conviveria com dezenas de quilômetros de ciclovias. Dirão mais uma vez, como sempre fazem ao tratar o povo como bobo:JÁ farei ciclovias, enquanto proliferam viadutos por todos os lados para satisfação do complexo “das-auto-petrox-etacana-katiarebelo-monsanto-basf-agrogen”.
FARINHA DO TIPO MÉDIO

A recente votação do Código Florestal produziu o seguinte escore: pelo sim ao relatório (13): Anselmo de Jesus (PT-RO).Homero Pereira (PR-MT), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Moacir Micheletto (PMDB-PR), Paulo Piau (PPS-MG), Valdir Colatto (PMDB-SC), Hernandes Amorim (PTB-RO), Marcos Montes (DEM-MG), Moreira Mendes (PPS-RO), Duarte Nogueira (PSDB-SP), Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Reinhold Stephanes (PMDB-PR), Eduardo Seabra (PTB-AP). Quem votou pelo não ao relatório (5): Dr. Rosinha (PT-PR), Ricardo Tripoli (PSDB-SP), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Sarney Filho (PV-MA), Ivan Valente (PSOL-SP). Com estardalhaço a bancada ruralista, tendo como guia supremo um “comunista”, comemorou o evento de aprovação do projeto do relator, na contramão do que o mundo hoje reivindica como necessário para debelar a crise ecológica mundial: preservar a todo custo florestas remanescentes, nascentes, córregos, arroios e rios de todos os tamanhos, biodiversidade associada, retenção de carbono, mitigação das mudanças climáticas em curso, etc, etc...

O governo federal não moveu uma palha para evitar essa tragédia anunciada, pois é do seu interesse manter, em nome da “governabilidade lulística”, sua base aliada coesa para costurar o compromisso em torno da sua candidata. Os ruralistas traçaram uma estratégia muito ardilosa e inteligente, ao tomarem o governo refém do seu projeto de sucessão no poder - eterno, diga-se de passagem. O PT, e os partidos principais da aliança que sustentou Lula durante esses oito anos, souberam, como nunca na história “desse país”, mover-se nos insondáveis meandros de uma matriz de dominação burguesa, de viés arqui-conservador, de caráter desenvolvimentista-depredador, no melhor estilo da obscuridão militar, embora agora travestida de “democrática”, a par do sarrafo que a repressão baixa indiscriminadamente nos movimentos populares. Ao dar um pirulito ao pobre e um patacão de ouro ao rico, produz virtual consenso para agradar a todos, eficiência na manutenção do poder a toda prova, embora não pudesse contar com o serviço extra da jabulani para incrementar o enredo bufo-tropical. Infelizmente, nos últimos lulanos o que assistimos “nesse país” foi vê-lo se transformar na maior plataforma exportadora de commodities do mundo, exportação vil da nossa natureza transformada em carnes, farelos, óleos, energia e tudo mais para movimentar a globomáquina de consumo. Resumo da ópera: JÁ virão medidas emergenciais que mitigarão os estragos porventura produzidos pela legislação recém patrolada. E o planeta, que não para de girar, até quando ainda resistirá ao rapino-capitalismo de resultado eleitoral ? E você, sempre tirado para cúmplice do eco-enredo (dependendo do ponto de vista) imagina que as gangues instaladas no Congresso mudarão as regras eleitorais que as beneficiam? Que farão a tão eterno-propalada reforma política para modificar o financiamento das campanhas eleitorais? Ora, ora, minha cara “eco-vítima-cúmplice”, cachorro com fome jamais larga o osso. Para mudar essa situação só com muita organização popular, indo para a rua e protestando até que “os guardiães do status quo” sejam removidos de seus castelos e das inesgotáveis tetas do Estado que os engordam.
FARINHA DO TIPO “FINO”


A PROPÔ: Vejo que tenho parceiros para propor limites na propriedade da terra. A sua falta é uma das várias razões pelas quais EBs proliferam e as cidades engrossam suas periferias com os pequenos agricultores quebrados. Enquanto isso, o agronegócio e a indústria pesada surfam com nosso dinheiro do BNDES.
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