“Termo de Ajuste de Conduta” é o
dispositivo legal que se utiliza no Brasil para compensar impactos ambientais
causados por ações já consumadas, mas que em patropi tomaram rumo
bastante diferente – são largamente usadas como prévia garantia para
perpetração de toda sorte de danos ambientais, júris-fórmula que garante salvo-conduto
para a efetiva consumação dos empreendimentos em questão. Foi assim com Belo
Monte, foi assim com as demais mega-hidrelétricas País afora, foi assim com
a... Transposto esse sinuoso estratagema para o sistema capitalista global,
seria apropriado falar-se de um TAC do capitalismo a ser urdido na Rio+20 ?
O “Termo” do TAC
Será
o protocolo/tratado propriamente dito, gerado na “Rio menos 40”, fruto de
sinuosas e insondáveis negociações que já duram meses, cujo resultado mais
palpável foi a emissão de muitas toneladas de gases de efeito estufa por parte
dos aviões, carros e trens que circularam mundo afora transportando diplomatas
de carreira e plus-consortes, muitas toneladas de caviar e milhares de
champanhas, para ficarmos somente em alguns itens presentes nesse “desprendido”
esforço por parte da elite mundial, que o faz “em nome de toda a humanidade”,
embebida dos mais puros e nobres ideais. Aos mais “sensíveis”, os discursos
suscitam comoções e prantos.
Com “modestos” salários na casa dos 7 dígitos, seja em dólar, euros ou mesmo reais, e desfrutando de TODAS as benesses inimagináveis, dá-se como certo que todos os membros desse seleto e nobre clube de amigos, indistintamente de sua nacionalidade, credo, raça e ideologia política, abandonarão “in limine” seu esporte preferido de voraz consumismo, em sobre-humano e heróico esforço individual para “ajudar” na sobrevida (da vida) planetária. Prêmios serão distribuídos para os que acumularam mais horas de vôo no afã de produzir o documento final da conferência. Cientistas que abrilhantaram as rodadas com inovadores paradigmas e holo-teorias também terão lugar no pódio. Alguma criança será indicada como símbolo da luta pela perpetuação da espécie, para frenesi da mídia e de grupos de auto-ajuda. Alguns plantarão árvores e o que ficará como lembrança, assim como foi na Eco-92, será a festa. Sim, a enorme festa. O encontro exala a mesma hipocrisia que se viu há vinte anos atrás, evento no qual todos se comprometeram com metas que jamais saíram do papel. De lá para cá, a situação ecológica no mundo só piorou. E muito !!!
O “Ajuste” do TAC

O “ajuste” no sistema vem sob rótulo de ECONOMIA VERDE,
uma espécie de upgrade do desgastado “desenvolvimento sustentável”, já que este
se mostrou pouco eficiente para dar conta da economia, ambiente propositalmente
dissociado em seu modus operandi da ecologia, que, a rigor, deveria governar a
economia. Mas, como isso se afigura absolutamente impossível no âmbito do
capitalismo, ainda que munido de fórmulas neoqueinesianas, para desespero da
banda neoliberal, fala-se na reforma do cálculo do PIB, embutindo preços
atribuídos aos serviços ambientais, uma espécie de “upselling” da natureza. Mas
ao capitalismo, governado pelo lucro que alimenta essa mesma elite mundial que
dele vive e com ele se perpetua, em permanente crise sistêmica global, aceitaria
limitações auto-impostas pela crise ecológica? Bastaria que algumas medidas
fossem adotadas pelos mercados mundiais para “ajustar o passo” do sistema em
relação à reversão da perda da biodiversidade? Do inquietante aumento de
emissões dos gases estufa? Do aquecimento global? Do acelerado colapso dos
oceanos? O que essa elite dirigente não pode fazer é trazer a ética ao cenário
da solução. Síndica de um condomínio no qual uns pagam os estragos causados
pelos outros, outros não pagam nada e só usufruem dos recursos rapinados aos
outros, além da banda omissa, faz o discurso parecer um rol de mentiras
permeado de falácias e contos de carochinhas.
A “Conduta” do TAC
Sob
o argumento de erradicar a pobreza no mundo e dar conta da crise ecológica, a
elite governante engendra um discurso que apresenta a ECONOMIA VERDE como fórmula redentora dos “defeitos estruturais” do
capitalismo, tornando a humanidade refém e cúmplice dos processos e decisões
por ela tomada em evidente movimento de auto-preservação. Na cultura do
“progresso material” acopla-se uma dose de preocupação eco-estética e pretensamente
humanista, ao defender o crescimento econômico a todo custo, com vistas a gerar
e repor empregos evaporados pelas próprias crises que o sistema constantemente
produz. A fórmula é a expressão repaginada da mais refinada “maquiagem verde”
que, a bem da verdade, traduz a sofisticada capacidade de adaptação do discurso
das elites em sua governança global. A CNI sai em defesa da “economia verde”
como fórmula para alcançar o “desenvolvimento sustentável”, como se a esse
grupo interessasse colocar obstáculos à lucratividade das empresas. Em síntese,
fala-se do compromisso com o propósito de não executá-lo. Já vimos esse filme
!!!

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